Era pra ser só uma brincadeira de
carnaval. Uma mãe, com a filha e sobrinha, não querendo fantasiá-las com as
típicas princesas resolveu incentivá-las a se vestirem de Frida. Por que Frida?
Porque feminista, a frente de seu tempo, uma mulher que aliou a aspereza da
política com a sutileza da arte, porque fugia dos padrões estéticos, porque
valorizava as cores latinas e implantava um estilo próprio de roupa, de cabelo,
de ser se vestir e de ser, não com os olhos voltados para a Europa, mas para a
terra onde pisava.
Consequência: nenhum folião entendia
aquelas sobrancelhas emendadas e o buço marcante em plena época de culto pela
depilação. Por outro lado, a partir dali o universo infantil dessas garotas não
ficaria recheado apenas com Elsas e Brancas de Neve, mas seriam ensinadas a
admirar personalidades fortes, tal qual a Frida, mulher da nossa América que
desafiou modismos e convenções, fez uma arte própria, participou de partido
político de esquerda e buscou superar com pincéis e tintas as próprias frustrações, medos e dores
decorrentes de uma saúde extremamente debilitada.
Esse ano a ideia não era para três
pessoas. Era de se formar uma ala de Fridas, de mulheres dispostas a usar do
carnaval trazendo uma conotação de luta, de feminismo, que do contrário do que
muito pensam, não é antônimo de machismo. Feminismo é o empoderamento da
mulher, é a defesa de igualdade de gêneros, é a mulher ser tratada como sujeito
de ações e opções e ser respeitada por isso.
A ala das Fridas dentro do bloco Chico
Rei se distanciaria do imaginário popular de se atrelar a figura da mulher a Rainha
da Bateria, símbolo de sensualidade. Também não se pareceriam com as baianas,
porque apesar das grandes saias que possuem em comum, as Fridas trariam o
significado feminista.
Uma ala alegre, florida, com saias
rodadas, mulheres e homens vestidos de Frida como denúncia de um machismo e de
uma sociedade desigual em que a figura do homem branco, hetero, classe média,
cristão é mais valorada socialmente.
Foi lindo contribuir para que mais
pessoas reconhecessem a figura importantíssima e altamente simbólica da Frida.
Foi inesquecível fazer parte dessa história que tem tudo para virar tradição.
Contudo, que lembremos que se a Frida virar apenas uma fantasia perde seu
caráter de apelo a reflexões sobre a condição opressora em que vive a mulher no
Brasil. Daí deixa de ser “Sou Frida” e fica apenas “Sofrida”.
Ana Paula Ferreira
Fev/2016
Fev/2016
Texto também publicado no Jornal da Cidade 09/02/2016 https://www.jornaldacidade1.com.br/ala-das-fridas/
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