De um modo geral há muitos discursos que
querem nos fazer acreditar que professor é acomodado, não reage. Não podemos
reproduzir essa ideologia dominante que apenas reforça a apatia, a insegurança,
a desesperança. Longe de trazer uma visão polianesca, a história explica a
dificuldade de organização entre os docentes.
Após
200 anos de educação jesuítica, Pombal introduziu as aulas régias que
consistiam em aulas realizadas nas casas dos próprios professores, que não
tinham uma habilitação específica, mas sim sabiam um pouco mais que a grande
maioria analfabeta de nosso país. Na
ausência de um espaço físico para dividirem, que seria a escola, esses
professores dificilmente se encontravam. Portanto, como poderiam se associar e
lutar por melhores condições enquanto professores se nem dispunham de espaços
em comum?
É importante pontuar que eram
professores como uma extensão de outras atividades. Não eram professores por
formação, haja vista que segundo Monlevade (2000) “Um médico lecionava
biologia, um advogado história, um engenheiro matemática e um cidadão nascido
na Itália ou na França, italiano e francês.” Isso significa que não tinham
interesse corporativo porque não tinham identidade de professores.
Esses fatores apontam o porquê as
primeiras associações de professores só ocorreram no século XX, traçando uma história
recente no que consiste às organizações docentes por um aparato trabalhista
mais digno.
Além do quesito temporal na criação
tardia de organizações, há uma fragmentação na categoria que pode ser observada
no que tange ao salário entre professores dos liceus secundários e primários,
principalmente nos anos de 1934 a 1964, período esse no qual os professores
secundários são cunhados como “elite do magistério” por receberem quase o
equivalente de um professor universitário.
Tal situação tem certas analogias que
podem ser traçadas em relação à experiência de Poços de Caldas, na qual embora
o professor de área específica (PII) receba um pouco a mais que um professor de
séries iniciais (PI), isso serve muitas vezes para processos discriminatórios,
como se houvesse uma hierarquia que na realidade sabemos que é inexistente.
Endossando o caldo histórico da
fragmentação docente, há a estratificação social pelo nível que o professor
atua e a valoração dependendo da formação inicial (desde as diversas
licenciaturas, Pedagogia, Normal Superior ou magistério). A dificuldade de
compor a defesa de uma profissão valorizada foi sentida também pela questão de
gênero, lembrando que historicamente as mulheres possuem salários menores que
os homens e que no século XX acompanhou-se uma grande onda da feminização do
magistério através das Escolas Normais.
Diante dessa ausência de uma união entre os
professores, independente de suas particularidades, é possível notar movimento
de resistência tal qual o que os alunos desinteressados pelas aulas fazem:
faltam; procuram fazer o trabalho de forma básica e nada além do convencional,
somente o obrigatório. Ou então, outro movimento por parte dos professores é
sua luta por “seus alunos”, defendendo-os, proporcionando-lhes o máximo de si.
No primeiro caso resistem no formato de uma mera sobrevivência. Já não há o
brilho em fazer diferente, há a esperança cede lugar maior ao cumprimento do
dever. No segundo caso, ocorre um dispêndio de energia, mas limitam-se ao
universo restrito onde atuam.
Embora, sejam atitudes individualistas,
não deixam de se configurar como movimento. Por um lado, o movimento de
‘rebeldia’ e por outro o movimento de ‘idealismo’, bem na lógica de “vamos
plantar várias sementes e se uma frutificar está bom”.
A história não deve ser analisada apenas
para entendimento do presente, mas como mecanismo de se perceber até onde se
caminhou, aonde se quer chegar e o que é preciso ser feito. Repito que a
intenção não é desqualificar o trabalho alheio. Mas, mostrar que não há apatia,
o que há é uma descrença na vida coletiva, na associação, no trabalho em
conjunto com outros professores, nos sindicatos.
Isso enfraquece as conquistas para os
trabalhadores, pois enquanto nos gradearmos entre nós o patrão se fortalece;
enquanto nos ofendermos, os pilares que poderiam nos sustentar ficam abalados e
enquanto considerarmos o ato educativo como meramente o ensino de determinada
disciplina, estaremos deixando de cumprir a função educativa de ensinar pela
via do exemplo, de que quem luta, ensina!
Que não nos contentemos com o imediato,
com salários baixos! Que não nos contentemos com uma proposta que não beneficia
o trabalhador da educação porque tendo em vista o valor a ser pago pelo
patronato e a exigência de um único cargo, esse profissional precisa receber
suficientemente bem para que dispense outro cargo, realidade essa não
configurada na proposta.
Atualmente vivenciamos ataques por
termos sido contra ao formato de cumprimento da lei do piso proposto pelo
Executivo. Em relação a isso só uma observação: que nos unamos lembrando a
frase de Martin Luther King “A liberdade jamais é dada pelo opressor ela tem que ser conquistada
pelo oprimido.”
Ana Paula Ferreira
02/02/2016
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