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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Folclore: definição e atividades


Quer explicar para as crianças o que é folclore, mas ao mesmo tempo quer fugir da relação de relação de que folclore seja apenas lenda?

Simples, clique AQUI. 

Nessa apresentação os elementos que constituem o folclore são apresentados de forma clara e ilustrativa de modo que facilite a compreensão sem estereotipar o que seja folclore.

Sugiro aqui também outras atividades de como trabalhar o tema aproveitando os saberes regionais.

1) Faça um levantamento na sala e veja se há algum aluno que pode indicar familiares ou amigos para visitar a escola e compartilhar algum causo ou lenda. No dia da contação pode-se inclusive propor um clima a meia-luz, com a turma sentada no chão em círculo.

2) Brinque de trava-língua com a turma. Proponha desafios! É uma ótima maneira de fazê-los inclusive ler rapidamente um texto curto até decorá-lo.

3) Escutem a música “O desafio do trava-língua” de Rubinho do Vale. Além de divertida é de ótima qualidade musical.

4) Convide pessoas de grande importância no folclore regional para conversar com os alunos. Deixo como sugestão: Sr. Amadeu Ferreira da Folia de Reis e Catira, e Dona Orlanda Clementino, ícone da congada.

5) Criem um livro de chás com a ajuda das mulheres da região que se utilizam dos chás caseiros para combater algum doença.

6) Marquem uma visita à feira de artesanato.

7) Façam trabalhos em grupo cuja apresentação seja em pequenos vídeos: um pode explicar o que é folclore, outro pode entrevistar pessoas, outros podem encenar alguma lenda. A apresentação poderá ser para toda comunidade.

8) Peça pesquisas às crianças sobre músicas folclóricas que conhecem. Apresente a música clássica de Villa-Lobos e o valor que ele deu ao folclore brasileiro.

9) Veja com os familiares se alguém pode ir à escola fazer algum doce ou comida típica. Marque um dia para que todas as salas façam um “café folclórico”.

10) E sobretudo... Valorize nosso folclore! Valorize nossa cultura!

Sugestões de site:
https://www.slideshare.net/AnaPaulaFerreira94/folclore-do-anonimato-para-a-tradio
https://www.youtube.com/watch?v=NX5ul6Q7bhI&feature=youtu.be





domingo, 21 de maio de 2017

Transformando leitura em brincadeira e em reconto

Na escola é muito comum o ato de se contar uma história e pedir que os alunos representem via desenho ou resumo.
O ato de representar é importante, frisando com os alunos que nossa memória não consegue se lembrar de tudo e é importante algum registro se quisermos recontar algo. Entretanto, o registro pode ser por várias formas, desenho, massinha, foto, filmagem, etc.
A experiência a seguir relata uma brincadeira após o leitura de "Simbá, o Marujo" e que foi realizada em casa com minha filha Isabela de 5 anos e minha sobrinha Lavínia de 7.
Ocorreu na ordem abaixo:
1) Li a história adaptada, reconto de Edson Rocha Braga.
2) Representamos com brinquedos o que foi lido.
3) Isabela tirou fotos das representações.
4) Elas criaram frases para cada imagem e eu fui a escriba, mas houve um momento que elas quiseram digitar. Na onde digitaram, eu só reescrevi embaixo para haver um entendimento.
5) Montaram uma segunda adaptação.

Veja, o livro que elas fizeram...

SIMBÁ, O MARUJO 
De Isabela S. F. B. Mafra e Lavínia Mafra
Fotos: Isabela S. F. B. Mafra
Edição: Ana Paula Ferreira



                                             SIMBÁ, O  MARUJO,   FOI  VIAJAR
                                                    A BALEIA DERRUBOU  O  NAVIO 
SIMBÁ  CHEGOU   NUMA    ILHA.   
LÁ  TINHA  CAVALO  E  LEVARAM  PARA  O  REI. 

O   REI  CHAMOU  SIMBÁ  PARA  TRABALHAR.



MAS   SEUS  AMIGOS   CHEGARAM E   SIMBÁ  ENTROU   NO  NAVIO 
O  NAVIO  FOI  ENPORA  DAILIA  E DEIXOU    SIPA    E LE ESTAVA GOMEDO  FURDAS. (Digitação)
O  NAVIO  FOI EMBORA  DA ILHA  E DEIXOU    SIMBA  PORQUE  ELE ESTAVA COMENDO  FRUTAS (Reescrita)

O   SIMBA  A  MAROU  NOPE  DOLARXCARTO VOADOR PARA  SARI  DAILHA (Digitação) 
O   SIMBÁ  AMARROU  NO PÉ  DO LAGARTO VOADOR PARA  SAIR  DA ILHA (Reescrita) 

O  LAGATO  FOCOME    COPARA  E   NA  ILHA  TINHA  JOIAS (Digitação) 
O  LAGARTO  FOI COMER    COBRA  E   NA  ILHA  TINHA  JOIAS. (Reescrita) 

O   ZOMER VOUTOU  DAI   LHA  E  BUSCOU    O   SIMBA.(Digitação)
OS  HOMENS VOLTARAM  NA   ILHA  E  BUSCARAM   O   SIMBÁ. (Reescrita) 

E  LEFO EMBORA  GOAJOIAS (Digitação)
ELE FOI EMBORA COM AS JOIAS (Reescrita) 


O  SIMBA  FOI   VIAJAR  COM  SEUS    AMIGOS  E   SEUS  PARSEROS. (Digitação)
O SIMBA FOI VIAJAR COM SEUS AMIGOS E SEUS PARCEIROS. (Reescrita) 

O SIMBA E SEUS AMIGOS ESTAVAM NO BARCO, MAS O BARCO AFUNDOU PORQUE VEIO UMA ONDA FORTE. SÓ O SIMBÁ SOBREVIVEU. 
O SIMBÁ CONSTRUIU UM BARCO PARA ATRAVESSAR A CACHOEIRA E ENTRAR PELA MONTANHA. O SIMBÁ ERA O ÚNICO SOBREVIVENTE. 

O SIMBÁ CHEGOU NO CASTELO E NO CASTELO TINHA UM REI. O REI FALOU:
- EU QUERO DAR UM PRESENTE PARA SEU REI.
O SIMBÁ LEVOU O PRESENTE PARA SEU REI.  

O SIMBÁ TROUXE JÓIAS E DIAMANTES PARA O REI DA PÉRSIA.
O REI PEDIU PARA SIMBÁ LEVAR DIAMANTES PARA O REI DE OUTRA ILHA. 

O BARCO FOI ATACADO POR PIRATAS.
TEVE UMA GUERRA E PRENDERAM TODOS E SIMBÁ VIROU ESCRAVO. 

O SIMBÁ COMO ESCRAVO MOSTROU PARA O SEU CHEFE NA ONDE TINHA MARFIM E O SEU CHEFE PEGOU OS MARFINS E FICOU RICO.
O CHEFE DE SIMBÁ DEIXOU SIMBÁ IR EMBORA.  


O SIMBÁ FICOU RICO PORQUE ELE GANHOU MARFIM E JÓIAS E VIVEU FELIZ PARA SEMPRE COM A SUA FAMÍLIA. 

domingo, 7 de maio de 2017

O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância

Vamos repensar o uso da tecnologia? Em que medida jogos eletrônicos podem influenciar a subjetividade das crianças e principalmente as meninas?

Vejam o resumo do trabalho apresentado no Simpósio LUBRAL clicando AQUI página 147.







A greve: um ato educativo

Quando se faz a opção por uma greve é porque várias alternativas foram apresentadas, mas não se teve êxito. Não é uma decisão feita às pressas, nem de forma unilateral e por isso há assembleias para se votar em relação à adesão. Uma das pautas da greve dos trabalhadores estaduais em Educação é a suspensão da Reforma da Previdência. A greve é nossa, nós que sofremos ataques por estarmos com as aulas suspensas, mas cabe frisar que a Reforma da Previdência atingirá a TODOS, portanto essa luta num gesto de coragem deveria ser de cada um de nós.

Estamos com as aulas paralisadas desde 15 de março, mas nossas atividades não pararam. Participamos de reuniões sindicais; fizemos estudos sobre a PEC 287; elaboramos panfletos e cartazes, organizamos palestras para comunidade; panfletamos em feiras, escolas e comércios; somamos nas passeatas; enviamos e-mails aos deputados para que votassem contra ao Projeto; pressionamos nossos vereadores de modo que assinassem uma nota de repúdio e encaminhassem para o Congresso.

Essas ações fazem parte de um entendimento de que paralisação é mobilização e de que ao estarmos esclarecidos sobre os prejuízos em relação aos direitos trabalhistas e de seguridade devemos fazer da greve um ato educativo de forma que mais pessoas entendam o que está se passando e quiçá saiam de sua zona de conforto para somar no movimento.

Direito à aula é um direito que não será subtraído e por isso haverá reposição desses dias. Entretanto, é direito também do aluno, enquanto futuro trabalhador, exercer suas atividades em condições dignas e não sob os efeitos da flexibilização das leis trabalhistas; é direito a se aposentar após anos de contribuição; é direito de a mulher ter o benefício da Previdência antes do homem lembrando sua tripla jornada.

São direitos que serão retirados de diversas gerações de brasileiros e brasileiras e o que mais me preocupa é acusação social, e de nossos próprios alunos, preocupados com as escolas fechadas. Isso mostra que a criticidade, objetivo de inúmeros Projetos Político Pedagógico não está sendo alcançado, pois ser crítico é fazer projeções a médio e longo prazo, é repensar os impactos coletivos e sociais, é ir além do imediatismo, é refletir sobre o senso comum midiatizado, é perceber no contraditório o movimento de pressão, de luta e de mudança.

Nós professores estamos sendo o contraditório numa sociedade que se acovarda e pouco discute os problemas da Reforma da Previdência. Que essa nossa ação sirva de ato educativo é a nossa esperança.

Ana Paula Ferreira




domingo, 23 de abril de 2017

Formação de leitores e prevenção contra a dengue: relatos de experiências

Compartilho duas experiências pedagógicas no papel de supervisora numa escola da Zona Sul de Poços de Caldas.
A primeira é em relação à formação de leitores, quando a escola fez uma parceria com a biblioteca do bairro e dinamizou esse espaço público até então subutilizado. A partir daí cresceu o acesso ao acervo da biblioteca e os próprios alunos avaliaram que estavam lendo mais.
A segunda experiência trata-se de orientações em relação ao trabalho sobre a dengue com uma abordagem interdisciplinar objetivando extrapolar a perspectiva de cuidado apenas com o próprio quintal para se potencializar o cuidado com o bairro e com a cidade.
Ambas experiências estão mais detalhadas nos Anais do Simpósio Nacional Por uma Escola Inovadora e Inclusiva e inclusive o segundo relato tem a participação da professora Regiane Schlive Fermino.
Veja nas páginas 440 (Formação de Leitores) ou 798 (Prevenção contra a Dengue) clicando AQUI.

 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE E LINGUAGEM NO AMBIENTE ESCOLAR

Deixo aqui um artigo meu e do amigo Elvis Rezende Messias que consta no material do SIELP -
Simpósio Internacional de Ensino de Língua Portuguesa, página 1715.

Trata-se de uma reflexão sobre a linguagem e sua relação com a subjetividade.

Para conferir clique AQUI.



Depois melhoramos a escrita e construímos o seguinte artigo que foi publicado na revista da UEMG: 



sexta-feira, 24 de março de 2017

Os Saltimbancos e a Previdência Social

A peça teatral “Saltimbancos” de Chico Buarque está mais atual do que nunca. Não digo pelo fato da nova versão de filme que estreou em janeiro deste ano tendo Renato Aragão como protagonista. A atualidade reside na discussão do desmonte dos direitos trabalhistas que está ocorrendo nos últimos meses no Brasil e que o texto “Saltimbancos” metaforicamente trata tão bem diante de seus animais.
A história começa com um jumento que foge para não continuar sofrendo as opressões do campo, representando o trabalhador rural que abastece a zona urbana, mas nem é lembrado, “nem nome não tem”. Fazendo um paralelo com a atual conjuntura, o trabalhador rural não é somente esquecido pelos citadinos, como também pelos próprios representantes políticos quando se corre o risco que os mesmos votem a Reforma da Previdência na qual o camponês será duramente penalizado. Se antes tinham o direito de se aposentarem antes da idade mínima, tendo em vista que geralmente iniciam-se nas atividades da roça antes dos 14 anos, com a PEC 287 o capiau aposentará com a mesma idade que outros trabalhadores. Esquecem de suas marcas de sol, de suas mãos calejadas, de seu sono interrompido na madrugada e lhe exigem mais trabalho, mais contribuição, mais produção e menos retorno.
O mesmo acontece com a personagem da galinha que pode ser comparada aos operários fabris. Isso porque passado o período produtivo, não servem mais, são corpos descartáveis e que podem sentir mais rapidamente o pacote de mudanças trabalhistas tendo em vista a aprovação da Terceirização para todas as atividades. As mudanças permitem uma jornada acima de 8 horas diárias, precarização do trabalho e remunerações abaixo do valor que seria pago caso a contratação fosse diretamente com a empresa a qual se presta o serviço. Para garantir uma aposentadoria integral precisará contribuir por 49 anos ininterruptos, o que significa não parar a produção seja por motivo de desemprego, acidente de trabalho ou afins. Porém, com a idade avançada chega também o cansaço e não se produz tanto quanto antes e assim como a galinha da história que ao não botar mais ovos é ameaçada a virar canja, o trabalhador industriário é ameaçado a ser demitido antes da idade de 65 anos, ficando desempregado, com poucas chances de voltar ao mercado e sem aposentadoria.
A violência das medidas anti-trabalhadores refletirá pesadamente sobre a juventude que precisará contribuir desde cedo se quiser aumentar as chances de aposentar, porém num cenário de terceirizações em massa e com menor chance de entrada no mercado de trabalho haja vista que o trabalhador (se respeitado seu tempo para aposentar) demorará mais tempo para desocupar uma vaga. A juventude é ilustrada pela gata do livro “Saltimbancos”, aquela que ainda não está na idade produtiva e que faz da música sua forma de protesto.
            Entretanto no decorrer da história há o entendimento entre os personagens que a arte não é suficiente como forma de ataque e percebem que a libertação de seus opressores ocorrerá quando se unirem pois “um bico com dez unhas, quatro patas, trinta dentes e o valente dos valentes ainda vai te respeitar”. O tom esperançoso do livro em relação ao trabalho coletivo reforça a ideia de que para combater a aprovação da Reforma da Previdência não bastam paralisações pontuais e faz-se urgente uma greve geral. Somos agricultores, operários, professores, policiais ou jovens, somos por isso mesmo classe trabalhadora. Se apenas uma categoria mostra os dentes ou as unhas é pouco perante a força que os barões do poder possuem e por isso é imprescindível uma bandeira de luta de que “Todos juntos somos forte, somos flechas e somos arco, todos nós no mesmo barco, não há nada a temer”. Se juntos, Temer jamais!

Ana Paula Ferreira




sexta-feira, 10 de março de 2017

A (in) visibilidade feminina e a (re) existência

Somos a maioria da população e quanto a isso não dúvida. Pra sermos mais próximas da exatidão somos numericamente 6 milhões a mais do que os homens. Estamos nos lares, nas lavouras, nas fábricas, nos hospitais e nas escolas. Viramos destaque quando se trata de participação em comercial de cerveja ou nas propagandas de cosméticos. Somos referências de zeladoras do ambiente familiar e no imaginário social da “tia”, palavra que em grande medida deprecia a professora da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Alguns locais nos foram historicamente marcados e se constituem onde somos visíveis: no ambiente familiar, onde somos apenas corpo, em cargos e funções associados ao cuidar, em profissões que estão desvalorizadas.

Porém, somos poucas nos percentuais de gerência, de trabalhadoras assalariadas e nos cargos políticos que definem diretamente sobre nossas vidas. Na política institucional somos menos de 10% e quando ousamos fazer a política no chão da feira e das praças através da linguagem direta com o trabalhador, nossa visibilidade e barulho incomodam. Ao entender que para se alterar o quadro de um mentalidade patriarcal, que objetifica a mulher e a torna como corpo descartável é necessário também adentrar o palco institucional das escolas e por isso o evento do dia 8 de março realizado na Autarquia Municipal de Ensino com formação de professores em relação a temática.

A proposta “Educação de gênero no espaço escolar” foi significativa porque contou com uma programação riquíssima sobre gênero, pensada e materializada por militantes. Significativa pela composição da mesa ser exclusivamente por mulheres que ganhavam não o espaço da voz, mas da escuta. Significativa porque se criou mecanismos de responsabilizar o poder público em apoiar e trabalhar pelas demandas sociais.

Nesse evento mostramos a porta da saída da invisibilidade; atravessamos a história do movimento feminista pelas ruas e entramos na visibilidade institucional a começar pela Secretaria de Educação, ocupando uma universidade e depois ao se fazer uma formação para diversas professoras e professores, que retornarão ao espaço escolar, nos fazendo crer que seja alimentada a ideia de “Companheira me ajude, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”.

Ana Paula Ferreira
Mestre em Educação e membro do
Coletivo Jaçanã Musa dos Santos



Fotos de Gustavo Rodrigues







Fotos de Greice Keli



Agradecimentos profundos e sinceros a todas e todos que inspiram à luta: Edna, Lucia Vera, Claudia, Lilian, Greice, Marília, Laís, Paula, Stephanie, Dani, Sabrina, Victória, Juliana, Eliza, Diego, Divino, Gustavo, Tiago.
Obrigada a todos da Secretaria que acolheram a ideia e deram contornos belíssimos: Cleiton, Karla, Mario, Flávia, Nancy e demais trabalhadores.
Meu afeto e carinho a Marcela Rufato e Daniela Rosa que marcaram minha alma com a manhã do dia 8 de março de 2017!!!











sábado, 11 de fevereiro de 2017

A identidade docente: entre o apagamento e a conexão

Uma das informações para reconhecer uma pessoa é por sua profissão e outra marca é a própria impressão digital. Profissões existem várias e, aliás, se tem a opção de mudar de profissão, aposentar ou até mesmo parar de trabalhar. Já a digital é única e é tão preciosa que é um dos mecanismos usados hoje para o controle do voto no Brasil. Contudo, é interessante perceber que determinadas profissões subtraem o sujeito de si mesmo, que há alguns trabalhos que apagam a digital, a torna tão discreta que não é reconhecida. Isso acontece com o professor, quando o giz lhe apaga suas digitais reais e existenciais.
Esse apagamento ocorre quando o professor é tragado pelo sistema. Quando digo “tragado” quero dizer que já se consumiu a tal ponto que já não existe enquanto matéria inicial. Persiste onde está, mas já não há energia a ser gasta. Faz estritamente o necessário, dando conteúdos, preenchendo formulários, fazendo avaliações. Porém, ele não tem perspectivas para com o ensino, com a educação, com os alunos. Alunos são muitas vezes números, folhas são burocracias, conteúdos são obrigações de uma função. O professor não preenche sua vida profissional de sentidos mais amplos e transfere isso para sala de aula.
Quando o professor ao assumir uma sala de aula deixa de ser pessoa, de ser um sujeito de emoções e assume o papel de um burocrata do ensino, não compartilha a vida, não relaciona o estudo com a concretude, conta os minutos para o horário da saída. Quer passar a ideia de pessoa disciplinadora e se esvazia de si mesmo, busca o controle da sala, mas esquece de sua necessidade de conexão, de interagir, de diálogo.
Para um resgaste dessa identidade docente é imprescindível lembrar que a razão de ser professor é o aprendizado.  Aprendizado não é via de mão única: ensina-se e aprende-se, aprende-se para ensinar. Essa correspondência alivia a sobrecarga dos ombros do educador, pois nem sempre saberá de tudo, ainda mais numa sociedade onde é comum famílias terem TV por assinatura, crianças terem acesso à internet e inúmeras outras fontes de informação.
            O papel do professor será diferente, porém não menor. A justificativa de muitos não abrirem mão desse saber escolástico é que precisam cumprir a grade curricular. Grade! Até o nome é opressor! Na verdade precisamos é refletir para que serve a escola e juntamente a isso repensar para que serve o conteúdo.
Escola não necessariamente mudará o mundo. Na verdade, pode mudar ou ser conivente e para isso serve o conteúdo, pois como qualquer outra ferramenta, depende do uso. Posso usar o conteúdo apenas com fins imediatistas tal como ir bem numa prova ou pra fins mais existenciais de compreender cada ação e seus infinitos desdobramentos no mundo. A segunda opção é mais complexa, porém, envolve uma consciência muito mais responsável sobre ser e estar. E é essa uma das funções de ser professor na atualidade: ajudar o aluno a fazer a ponte entre o saber e o fazer, entre o pensar e o construir, entre o estar no mundo e se perceber pertencente à natureza.
Essa transformação parece pequena, mas é algo essencial para quem deseja democracia de relações horizontalizadas, de quem prima pelo conhecimento significativo, de quem trabalha pelo protagonismo a começar pelo próprio professor que não será mero cumpridor de tarefas, mas aquele que faz o diálogo entre o senso comum e o saber científico, entre o que está no livro e o que vibra na vida, de modo a não se esquecer que ele, professor, também é vida.

Ana Paula Ferreira
Jan/2017



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ser professor na contemporaneidade

O que nos motiva a ser professor nos tempos atuais?
Tempos marcados por uma sociedade em que a informação é produzida em série e a internet vem a mostrar que o conhecimento não está fechado num gueto. Tempos em que as relações sociais estão cada vez mais líquidas e a tecnologia tem tomado o espaço do olho no olho; tempos em que a educação não é mais a porta de entrada no mercado de trabalho porque esse não incorpora todos. Nesses tempos é comum o sentimento de impotência ou uma total alienação do sujeito de si e do mundo, exemplificadas no culto ao prazer e afastamento a tudo que pede reflexão, observação e atenção.
            Diante desse cenário social não é um alento a carreira docente que segue sob um trabalho de leitura, crítica, conhecimento sobre esse contexto. Mas então volta a pergunta: por que escolher o magistério? Pensemos em situações mais próximas da carreira então.
Salário? Bem, sabemos que em muitas cidades ainda não se paga nem o piso salarial, que hoje está estipulado em R$ 2.135,00. Em Poços de Caldas o salário inicial é de R$ 984,00, ou seja, bem abaixo do piso, fazendo com que inclusive muitos abandonem a profissão.
Alguns podem argumentar que é um atrativo porque o professor não trabalha fins de semana. Ora, isso também é uma inverdade lembrando que os professores levam inúmeras provas para corrigir, cadernos, planos de aula para fazer o que muitas vezes compromete o fim de semana. Voltando no exemplo da prefeitura de Poços de Caldas, não se destina ao professor o 1/3 estipulado em lei que o professor deve ficar fora de sala de aula para planejamento e estudo.
Então, seria a motivação principal porque é um trabalho mais simples para exercer do que outras carreiras? Daí é cabal perguntarmos: Ensinar é simples? Gerenciar conflitos é simples? Conseguir fazer com que o outro supere suas próprias dificuldades é simples? Não! Não são tarefas simples o que o professor faz cotidianamente ainda mais numa sociedade que acha que a escola pode dar conta de tudo, mas não percebe que o espaço escolar é apenas uma versão reduzida dos problemas sociais.
A motivação estaria nas políticas públicas? Também não é daí que acharemos nossa justificativa haja vista que nacionalmente vê-se cortes área da educação ou mais assustador o que aconteceu em São Paulo com a corrupção da merenda. Percebemos, portanto, que as políticas públicas não estão a remar a favor da educação.
Seria então o status social? O reconhecimento da importância do professor dentro da sociedade que motivaria nossa entrada na carreira do magistério? Isso também é mentira, quando os pais tomam a palavra de forma agressiva ou toda a sociedade julga quando professor faz greve.  
Se não são os motivos acima listados que nos direcionam a estar na docência, é preciso que repensemos do que “Por que ser professor?”. Não quero dizer com isso que ignoremos a depredação da carreira. É necessário denúncia, luta e participação em grupos maiores que nos representem, pois se há políticas públicas pouco democráticas para educação: participação! Se há sucateamento da carreira docente: participação! Se há uma sociedade que nos aliena: participação! Porém, só tem como haver participação enquanto contraponto ao que ocorre se houver mudança de mentalidade e isso é prerrogativa da escola, e isso é função docente!
Além de razões sistêmicas há também os motivos subjetivos, além das questões contextuais há os sonhos e esperanças que guiaram um dia a escolha para o magistério. Lembrar dessas questões existenciais que nos conduziram a ser professor é possibilitar que reflitamos em que sentido já fomos esmagados pelo sistema e se há utopias para nos alimentar. Embora haja um quadro que nos oprima, há os sonhos que podem nos revigorar, há a vontade de fazer uso da palavra para que mais pessoas percebam suas próprias amarras e juntos construamos outro modelo de sociedade. Reviver as utopias é uma forma de termos de trazer a pulsação, o calor, a energia. Um bom início de ano letivo a todos que conscientemente escolheram ser professor e não se esqueceram de seus sonhos!

Ana Paula Ferreira
jan/2017

sábado, 28 de janeiro de 2017

A FABRICAÇÃO DE MENINAS MEDIADA PELA INTERNET

Sabe-se que a formação de gênero é algo social e cultural e nesse resumo, de um trabalho que ainda está em construção, trago algumas reflexões do impacto da internet na formação do gênero feminino.

Vejam nos anais do II Congresso Ibero-Americano de Humanidades, Ciências e Educação AQUI página 404.




segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Barba Azul do século XXI

Embora alguns não saibam, mas os contos de fadas que nos encantam e emocionam em suas versões originais eram repletos de sadismo, mutilação, incesto, conteúdos nem sempre apropriados para o público que esse gênero atualmente se destina. Chapeuzinho é literalmente devorada, Cachinhos Dourados se torna alimento para os ursos, as irmãs de Cinderela ficam cegas quando pássaros lhes bicam os olhos, a Pequena Sereia não se casa com o príncipe, mas sim vira espuma.

Um dos contos cruéis é Barba Azul, história de um aristocrata que se casou várias vezes e mantinha o mistério sobre o paradeiro de suas companheiras. Acontece que o protagonista se casa novamente e antes de viajar deixa com a esposa as chaves dos aposentos, alertando-a a não usar uma delas. Assim que se ausenta, a mulher abre a porta com a chave proibida e para seu espanto encontra esposas mortas. O marido ao retornar descobre a insubordinação e vai ao encalço da mulher tentando matá-la...

As histórias infantis lidam com o imaginário e o lúdico, mas a realidade desponta porque nelas estão depositadas as memórias de um povo, a visão de mundo de uma determinada sociedade, tornando emergente a fantasia onde subterraneamente há os panos sociais, econômicos e culturais. Na história em questão é ilustrado o feminicídio, e embora o conto tenha sido publicado pela primeira vez em 1697 o problema ainda perdura. Mantem-se nas estatísticas que colocam o Brasil entre os cinco países com maior índice de violência contra a mulher e em histórias tal qual a que ocorreu em Campinas-SP na virada do ano.

A vítima, igual ao que ocorre no conto, que é culpada porque desafiou as ordens ou outro qualquer motivo injustificável. Quando um grupo de feministas formado por trabalhadoras, estudantes, mães e filhas faz um ato de repúdio à violência de gênero no terminal de linhas urbanas de Poços de Caldas-MG também estão desafiando o patriarcalismo, desobedecendo o autoritarismo, poeticamente mostrando as dores da mulher e assim abrem com a chave proibida o quarto escuro mostrando à dezenas de pessoas os horrores de um problema que fica escondido e que vários Barbas Azuis não querem mostrar.

Daí os Barbas Azuis aparecem munidos com as espadas das redes sociais querendo a morte simbólica das feministas. Jogam sobre elas todo o seu ódio, cospem sua raiva com o objetivo de desmoralizar o movimento e buscando calá-las para que voltem a seus postos de trabalho quietas e cumpridores de seus deveres.

As feministas continuam porque o dever não é apenas seguir o protocolo de cumprimento de obrigações diárias. O dever é social, ético, político de escancarar a porta inacessível para que mais gente possa se solidarizar com a causa, reforce os laços de sororidade, pois o machismo só vence onde a rede de apoio à mulher está desfiando. O feminismo diferente do machismo não apregoa a superioridade da mulher e nem se abastece de discursos de agressão aos homens. Uma de suas lutas é que as ações dos Barbas Azuis deixe de existir.