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domingo, 20 de março de 2016

Educafro: retrospectiva 2015

O curso pré-vestibular comunitário de educação para a camada popular e afrodescendentes – Educafro – está no município de Poços de Caldas há mais de 10 anos e esse ano de 2015 continuou seu histórico de luta. 
            Educafro existe porque o Ensino Superior embora com vários avanços ainda é um espaço de poucos. Por isso, a Educafro persiste para possibilitar que estudantes de escolas públicas tenham mais condições conceituais para se inserirem nas faculdades públicas ou privadas. Porém, é importante frisar que a Educafro não se faz apenas como cursinho pré-vestibular. É antes de tudo um movimento social.
            O grande ranço que separa os que passam no Enem e os que não têm nota suficiente para cursar o Ensino Superior é um reflexo de um abandono da escola pública e em contrapartida de uma desigualdade de renda absurda que torna possível que apenas a elite se alimente do saber historicamente construído e tenha mais oportunidades de se servir dos meios universitários mais conceituados. É nesse cenário que a Educafro se inscreve: se por um lado busca contribuir para inserção da classe trabalhadora enquanto estudantes universitários, por outro questiona esse modelo econômico que transforma a educação como moeda de troca.
            Por isso, além das aulas convencionais, há a aula de Cultura e Cidadania. Por isso que no decorrer do ano participa de inúmeras ações que demonstram a indignação com os problemas sociais. Esse ano de 2015 não foi diferente.
Começamos em março em parceria com o Instituto Moreira Salles e com o grupo que luta pela igualdade de gênero “Moça Você é Machista” para apresentação de um documentário e discussão a respeito do tema aborto. Longe de uma abordagem moralista, religiosa e fundamentalista, buscou-se um olhar não tão divulgado pela grande mídia: a questão da saúde pública, ao se pensar em milhares de mulheres que anualmente morrem vítimas de abortos clandestinos e de uma sociedade patriarcal.
            No dia 1° de maio fizemos uma panfletagem e conversa com os trabalhadores sobre a PL 4330, que roga sobre a regularização das terceirizações do trabalho. No fim do mês, em parceria com a UEMG, realizamos o I Seminário da Mulher Negra com a problemática da desigualdade de gênero e os impactos ainda maiores quando se trata da mulher negra, maior vítima de abuso sexual, desemprego e subempregos; inferiorizada por uma sociedade de consumo que deprecia sua pele, seu cabelo, sua cultura. 
            Em parceria com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) participamos de arrecadações de produtos de higiene e livros para as detentas da cadeia de Poços de Caldas, que se encontram em situação de carência em relação a esses produtos.
Participamos junto com outros grupos da Marcha contra a Intolerância Religiosa, Contra o Genocídio do Povo Negro e Contra a Violência em Relação à Mulher. Realizamos o encontro entre núcleos da Educafro de Minas Gerais que teve o privilégio de receber Frei David, fundador da Educafro e uma liderança de destaque nacional em relação à igualdade racial.
            Em setembro, em parceria com o Coletivo Educação, organizamos a palestra do professor Carlos Rodrigues Brandão, que fez uma fala sobre educação popular e Paulo Freire no espaço cultural da Urca para mais de 500 pessoas. 
Enfim, nossa luta foi em diversas frentes, em relação aos grupos mais vulneráveis, o negro, a mulher, a presidiária, o trabalhador, buscando superar o discurso blablazante e a ação vazia, desconectada de reflexões profundas, apontando para uma tentativa de se fazer a práxis, entre o estudo e a prática, a teoria e o agir sobre o mundo, aproveitando-se do saber como um processo de denúncia e de grito.
            Continuemos na luta em 2016!
           
Ana Paula Ferreira
jan/ 2016


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