Páginas

domingo, 20 de março de 2016

Chico Rei na avenida

O bloco Afro Chico Rei não é de hoje que saí no carnaval. Com uma história larga e profunda se insere nas atividades carnavalescas para apresentar através da arte suas demandas, trazendo um raio X das dores e percalços de um povo.
Contudo, esse ano teve um fato peculiar. Um dos movimentos sociais mais antigos da cidade teve o apoio de outros grupos sociais, grupos esses que aprendem com a história e o legado do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei.
Esse legado está atrelado à escravidão. Foram quase 400 anos desse regime extremamente opressor, mas, foram também quase 400 anos de luta pela emancipação. Portanto, temos um patrimônio de luta com o grupo mais marginalizado do Brasil. E Poços de Caldas recebeu também a extensão dessa história com o Chico Rei que remonta desde o ano 1963.
 Inicialmente foi organizado em formato de clube e no decorrer do tempo foi trazendo uma conotação mais política e de reflexão a respeito dos vários problemas sociais que infligiam à população negra: o genocídio do povo negro, grande índice de analfabetismo e de desemprego, desvalorização de sua cultura, preconceito, racismo, baixa representatividade política... Todos esses elementos evidenciando que a pobreza no Brasil tem cor.
Aprendemos com a história que nos é deixada e por isso não podemos nos furtar de participar em comunhão das atividades que um grupo mais experiente tem a ensinar. Desse modo nesse ano, saíram no carnaval grupos mais novos de estrada, tais como a Educafro (desde 2003 em Poços de Caldas) que também tem uma ligação com a causa negra e os Coletivos de Educação e Feminista Jaçanã Musa dos Santos (ambos criados em 2015).
Isso mostra força, mostra que a demanda de um é demanda de todos, porque num cenário que as mulheres são oprimidas, entre as negras a situação é mais violenta ainda; diante de uma educação sucateada há grupos que são mais excluídos dos bancos escolares; perante a má remuneração dos professores há que se lutar pelo apoio de todos da sociedade para que essa realidade se transforme, tendo em vista que lutar por uma educação de qualidade é uma forma de conquista de um capital cultural que pode contribuir para mudança social.
A apresentação do C.C.A.B. Chico Rei na avenida não veio com a conotação de caricato, qualidade essa atribuída aos blocos. Levou o caráter de luta! Não veio com aspecto meramente de folia, mas de crítica. Mulheres vestidas com a figura da feminista Frida, trazendo o tom do empoderamento. Professores e militantes da educação carregavam um quadro negro ressaltando entre outras questões o salário baixo para que autoridades sentadas confortavelmente em seu palanque pudessem ver. Representava-se a beleza misturada com o incômodo aliando a cultura carnavalesca com a crítica.
C.C.A.B. Chico Rei nos ajudou a escrever essa história. Que possamos perpetuá-la e continuar cantando “Somos luta e inteligência, somos história e persistência, Chico Rei é resistência!”


Ana Paula Ferreira
fev/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário