O bloco Afro Chico Rei não é de hoje que
saí no carnaval. Com uma história larga e profunda se insere nas atividades
carnavalescas para apresentar através da arte suas demandas, trazendo um raio X
das dores e percalços de um povo.
Contudo, esse ano teve um fato peculiar.
Um dos movimentos sociais mais antigos da cidade teve o apoio de outros grupos
sociais, grupos esses que aprendem com a história e o legado do Centro Cultural
Afro Brasileiro Chico Rei.
Esse legado está atrelado à escravidão.
Foram quase 400 anos desse regime extremamente opressor, mas, foram também
quase 400 anos de luta pela emancipação. Portanto, temos um patrimônio de luta
com o grupo mais marginalizado do Brasil. E Poços de Caldas recebeu também a
extensão dessa história com o Chico Rei que remonta desde o ano 1963.
Inicialmente foi organizado em formato de
clube e no decorrer do tempo foi trazendo uma conotação mais política e de
reflexão a respeito dos vários problemas sociais que infligiam à população
negra: o genocídio do povo negro, grande índice de analfabetismo e de
desemprego, desvalorização de sua cultura, preconceito, racismo, baixa
representatividade política... Todos esses elementos evidenciando que a pobreza
no Brasil tem cor.
Aprendemos com a história que nos é
deixada e por isso não podemos nos furtar de participar em comunhão das
atividades que um grupo mais experiente tem a ensinar. Desse modo nesse ano,
saíram no carnaval grupos mais novos de estrada, tais como a Educafro (desde
2003 em Poços de Caldas) que também tem uma ligação com a causa negra e os
Coletivos de Educação e Feminista Jaçanã Musa dos Santos (ambos criados em
2015).
Isso mostra força, mostra que a demanda
de um é demanda de todos, porque num cenário que as mulheres são oprimidas,
entre as negras a situação é mais violenta ainda; diante de uma educação
sucateada há grupos que são mais excluídos dos bancos escolares; perante a má
remuneração dos professores há que se lutar pelo apoio de todos da sociedade
para que essa realidade se transforme, tendo em vista que lutar por uma
educação de qualidade é uma forma de conquista de um capital cultural que pode
contribuir para mudança social.
A apresentação do C.C.A.B. Chico Rei na
avenida não veio com a conotação de caricato, qualidade essa atribuída aos
blocos. Levou o caráter de luta! Não veio com aspecto meramente de folia, mas
de crítica. Mulheres vestidas com a figura
da feminista Frida, trazendo o tom do empoderamento. Professores e militantes
da educação carregavam um quadro negro ressaltando entre outras questões o
salário baixo para que autoridades sentadas confortavelmente em seu palanque
pudessem ver. Representava-se a beleza misturada com o incômodo aliando a
cultura carnavalesca com a crítica.
C.C.A.B. Chico Rei nos ajudou a escrever
essa história. Que possamos perpetuá-la e continuar cantando “Somos luta e
inteligência, somos história e persistência, Chico Rei é resistência!”
Ana Paula Ferreira
fev/2016
fev/2016
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