“Eu dei cópia e ele não quis fazer!”,
“Criança precisa copiar para aprender”, “Dou cópia para treinar a caligrafia”,
“O menino precisa copiar para registrar a matéria”... Esses são alguns dos
dizeres sobre cópia dentro do universo escolar embutidos de enorme senso comum
que já deveria ter sido superado pela formação em nível Superior que é exigida
para formação da maioria dos docentes.
É engraçado pensarmos que boa parte dos professores
compreende e até afirma que as crianças aprendem fazendo uso de todos os
sentidos, e que muitas vezes um sentido é mais aguçado do que outro.
Entretanto, a sala de aula é configurada de tal forma que o copiar é
privilegiado sobre o fazer e o silêncio é a ordem dominante sobre o falar. Há
uma predominância do auditivo e do visual sobre os outros sentidos.
A criança não aprenderá mais ao copiar.
Enquanto copista ela realiza um serviço pior do que qualquer máquina de Xerox e
se indagada sobre o que copiou dificilmente conseguirá falar sobre o assunto.
Em tempos de fácil acesso tecnológico informatizado, a necessidade de copiar
usando grafite e papel é menor ainda. Com um simples gesto de CTRL C e CTRL V a
criança realiza a cópia do trecho selecionado. Isso significa que leu,
compreendeu, interpretou, ressignificou? Não! E daí uma das causas sérias do
analfabetismo funcional, no qual alunos após passarem anos na escola ainda não
detém a compreensão do código escrito.
A caligrafia precisa ser bem apresentada
até o 3° ano. Mostrar como é o traçado correto é uma das formas de cumprir a
finalidade da letra cursiva: poupar o tempo da escrita diante da agilidade em
se traçar esse tipo de letra. Mas, até mesmo a permanência do ensino da letra
cursiva dentro do currículo é questionável, mas não vou me ater nesse
momento.
Suponhamos que em séries mais avançadas
ainda não houve a devida apropriação do traçado correto ao ponto de ser uma
escrita ilegível. O professor deve fazer a intervenção mostrando a diferença
entre o que o aluno faz e a maneira correta, pois acreditar que cópias
simplesmente irão desfazer o erro é ilusão!
O registro da matéria pode ser de
diferentes formas: resumo, organização por tópicos, mapa mental, tabelas, poesia etc.
Inicialmente, quando o aluno ainda não domina esses modelos de estruturação do
conhecimento, o professor deve ser o escriba, mas sempre sinalizando como se
faz, buscando a participação dos estudantes. Assim que vão se familiarizando, o
professor deixa de ser o interventor e passa a ser mais o mediador, orientando
as produções, avaliando, oferecendo um retorno para que os educandos entendam o
que precisam melhorar.
Sim! Dá mais trabalho! As escritas não
serão iguais, pois não será uma linha de montagem de registro, porém, diante da
necessidade de ler, reler, organizar a escrita, melhorar a caligrafia pra ser
lido, contribuirá para a autonomia e para a emancipação. Evitaremos de formar
pseudo-cidadãos que reproduzem o discurso da grande mídia, que repetem a
rotina, o senso comum, a vida, sem questionar, conformados que estão na grande
cópia de tudo.
Por isso, deixemos de produzir máquinas
xerográficas de pouca qualidade para produzirmos pessoas que pensam.
23/02/2016
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