O grupo cultural Afro-brasileiro Chico Rei organizou com muita competência um
debate na Praça Dom Pedro II a respeito nome popularmente conhecido como “Praça
dos Macacos”.
Com um respeito à diversidade de opiniões e de memórias históricas o grupo
Chico Rei chamou duas pessoas com perspectivas diferentes para falarem sobre o
tema: o arquiteto e coordenador do museu Haroldo Gessoni e o memorialista e
jornalista Roberto Tereziano.
O primeiro, baseado dentre outras fontes na obra da museóloga Nilza Megale e do
historiador Homero Ottoni, citou que provavelmente essa alcunha “Macacos”
derivou da correspondência que veranistas cariocas fizeram da região com uma
área do Rio de Janeiro e citando a obra de Mario Mourão, disse que outra
explicação se deve ao fato de que naquela localidade havia macacos.
Roberto Tereziano completou em alguns momentos e contrapôs em outros. De acordo
com o jornalista a área era pantanosa e, portanto, dificilmente haveria macacos
e isso pode ser provado mediante fotos que mostram a geografia da época. Sobre
a comparação com um local do Rio de Janeiro, Tereziano afirmou que certamente
houve a relação, mas não pelos aspectos físicos de ambas as regiões, mas porque
eram redutos de ex-escravos. Detalhou que até mesmo o zelador da praça era
conhecido como Pedro Macaco e que na obra de Mauro Mourão há uma citação na
qual este avisa que na área havia pequenos primatas, mas coincidentemente
também havia negros.
A discussão do nome da praça foi uma alavanca para discussão sobre o local do
negro na sociedade brasileira. Passado e presente se entrelaçavam e mostravam
nós que precisam ser desembaraçados.
Os nós que foram
observados são maiores e mais densos. Nós na construção urbana que empurram o
negro para áreas periféricas; que exaltam nas praças principais esculturas do
homem, branco e da elite enquanto a Praça do Zumbi está abandonada; que
segregou a Igreja São Benedito por ser um santo negro cultuado principalmente
por esse grupo e hoje religiões de matriz africana refugiam-se nos bairros. Nós
na compreensão cultural e de memória de um povo quando se seleciona apenas a
história oficial para ser contada, quando se imagina viver numa democracia
racial. Nós sociais ao se constatar o quão vulnerável é o grupo afro-descente
em relação à segurança, moradia, emprego, educação e saúde.
Houve apontamentos e
reflexões, relação entre passado e presente, levantamento da situação de
marginalização antes e atualmente. Portanto, em nenhum momento se concluiu
mudar o nome da praça. Para os desavisados que adoram engrossar o caldo da
crítica pela crítica, não é essa a pretensão. Tem-se a clareza que mudar o nome
não é a solução, uma vez que já consta no imaginário popular, embora seja
importante reforçar o nome oficial: Dom Pedro II.
Esse pode ser um
início para desembaraçar os nós do racismo. Mas, só haverá reparação de fato em
relação à população negra quando dispuserem de igualdade de condições com a
população não negra. Isso só seria possível juntamente com uma visão de classe
social, afinal o grupo afro-descente de um modo geral não pisa no chão da
casa-grande e enquanto houver casa-grande haverá senzala. Aí está o maior nó.
Ana Paula Ferreira
02-03-2016
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