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terça-feira, 22 de março de 2016

Praça dos Macacos – Praça Dom Pedro II

            O grupo cultural Afro-brasileiro Chico Rei organizou com muita competência um debate na Praça Dom Pedro II a respeito nome popularmente conhecido como “Praça dos Macacos”.
            Com um respeito à diversidade de opiniões e de memórias históricas o grupo Chico Rei chamou duas pessoas com perspectivas diferentes para falarem sobre o tema: o arquiteto e coordenador do museu Haroldo Gessoni e o memorialista e jornalista Roberto Tereziano.
            O primeiro, baseado dentre outras fontes na obra da museóloga Nilza Megale e do historiador  Homero Ottoni, citou que provavelmente essa alcunha “Macacos” derivou da correspondência que veranistas cariocas fizeram da região com uma área do Rio de Janeiro e citando a obra de Mario Mourão, disse que outra explicação se deve ao fato de que naquela localidade havia macacos.
            Roberto Tereziano completou em alguns momentos e contrapôs em outros. De acordo com o jornalista a área era pantanosa e, portanto, dificilmente haveria macacos e isso pode ser provado mediante fotos que mostram a geografia da época. Sobre a comparação com um local do Rio de Janeiro, Tereziano afirmou que certamente houve a relação, mas não pelos aspectos físicos de ambas as regiões, mas porque eram redutos de ex-escravos. Detalhou que até mesmo o zelador da praça era conhecido como Pedro Macaco e que na obra de Mauro Mourão há uma citação na qual este avisa que na área havia pequenos primatas, mas coincidentemente também havia negros.
            A discussão do nome da praça foi uma alavanca para discussão sobre o local do negro na sociedade brasileira. Passado e presente se entrelaçavam e mostravam nós que precisam ser desembaraçados.
Os nós que foram observados são maiores e mais densos. Nós na construção urbana que empurram o negro para áreas periféricas; que exaltam nas praças principais esculturas do homem, branco e da elite enquanto a Praça do Zumbi está abandonada; que segregou a Igreja São Benedito por ser um santo negro cultuado principalmente por esse grupo e hoje religiões de matriz africana refugiam-se nos bairros. Nós na compreensão cultural e de memória de um povo quando se seleciona apenas a história oficial para ser contada, quando se imagina viver numa democracia racial. Nós sociais ao se constatar o quão vulnerável é o grupo afro-descente em relação à segurança, moradia, emprego, educação e saúde.
Houve apontamentos e reflexões, relação entre passado e presente, levantamento da situação de marginalização antes e atualmente. Portanto, em nenhum momento se concluiu mudar o nome da praça. Para os desavisados que adoram engrossar o caldo da crítica pela crítica, não é essa a pretensão. Tem-se a clareza que mudar o nome não é a solução, uma vez que já consta no imaginário popular, embora seja importante reforçar o nome oficial: Dom Pedro II.
Esse pode ser um início para desembaraçar os nós do racismo. Mas, só haverá reparação de fato em relação à população negra quando dispuserem de igualdade de condições com a população não negra. Isso só seria possível juntamente com uma visão de classe social, afinal o grupo afro-descente de um modo geral não pisa no chão da casa-grande e enquanto houver casa-grande haverá senzala. Aí está o maior nó.

Ana Paula Ferreira

02-03-2016

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