Na
última semana foram divulgados os resultados da Avaliação Nacional de
Alfabetização (ANA) pelo Ministério da Educação (MEC) e os dados não são dos
melhores... Os dados da avaliação são referentes a 2014 colhidos junto a alunos
de 8 anos, do 3º ano do Ensino Fundamental, que apresentaram o seguinte
desempenho: 1 em cada 5 alunos não consegue ler e compreender corretamente um
frase e na Matemática o resultado é ainda pior, uma vez que 57% dos estudantes
possuem desempenho insuficiente.
É comum nesses casos a
culpabilização dos ciclos ou da Progressão Automática, no qual se alega que os
alunos passam ser ter domínio do conteúdo. Porém, é interessante notar que em meados
dos anos 80, antes do ciclo na educação brasileira, para cada 1000 crianças
apenas 1/5 concluía o Ensino Fundamental. Além disso, o Brasil fechou o século XX
ganhando o título de país com o maior índice de repetência, o que não se
reflete em educação de qualidade, mediante pesquisa de competência de leitura,
matemática e ciências, na qual o Brasil ficou em penúltimo lugar entre 41
países participantes. Isso mostra que independente da adoção da progressão
automática ou um sistema mais rígido de retenção há a produção de uma massa de
marginalizados, seja pelos analfabetos funcionais que perpassam toda Educação
Básica, seja através dos que repetentes que acabam por tomar a via da evasão.
Nesse sentido, a escola organiza-se
como um
lugar de distinção, no qual só é privilegiado o estudante que já detém o
capital cultural afinado com o capital escolar. Dessa forma, avaliações seguem
para taxar, categorizar do que para ser uma mão de via dupla: o que o aluno
aprendeu e o que precisa avançar, e o que essa prova indica sobre a metodologia
do professor, onde são necessários os ajustes.
Alguns então devem pensar que a questão
está em investimento. Sim, estamos vivenciando um período de crise econômica, evidente
no corte de gasto em educação nos últimos meses (PNAIC, PRONATEC, financiamento
estudantil), mas nos últimos anos houve um avanço no investimento na mesma
área, com aprovação inclusive no ano passado de utilização de 10% do PIB para
Educação. Pode-se perceber os investimentos na expansão do Ensino Superior e
dos cursos técnicos e a realização nos anos de 2013 e 2014 do PNAIC, em que
professores que lecionavam até 3º ano do Fundamental tiveram um curso de
formação com recebimento de bolsa pela participação, material de apoio e livros
de leitura para cada sala de aula.
Contudo, várias notícias apontam o
quanto a educação pública ainda não está bem equipada. Se entendermos que a
União é responsável pelo Ensino Superior, os Estados pelo Ensino Médio e os
municípios pelo Ensino Fundamental veremos o porquê da diferença de escolas tão
sucateadas nas áreas mais pobres do país. Enquanto nos últimos anos o Ensino
Superior teve um investimento de quatro vezes mais que a Educação Básica essa
muitas vezes contou com recursos irrisórios de seus municípios o que se reverte
nos números dos resultados das avaliações nacionais.
Isso porque os índices mostram que
regiões com indicadores sociais ruins e com alto índice de crianças que
trabalham possuem o pior desempenho. Isso é uma amostra que não adianta somente
investimento em educação, mas investimento em outras áreas e por isso os
ministérios devem traçar estratégias de ação em diálogo, pois sozinha a
educação não muda o quadro de desigualdade econômica, nem tampouco cultural.
Em termos de políticas públicas
faltam inserções mais profundas para que o professor receba um salário digno
que o possibilite trabalhar menos e ter mais tempo para sua formação teórica, o
que se refletirá no ensino mais embasado na sala de aula. Afinal, como o
professor irá elaborar planos mais inovadores com tão pouco tempo livre? Ainda
em relação aos docentes faz-se também imprescindível a formação inicial e
continuada de modo que estejam preparados para lidarem com novas tecnologias,
com o raciocínio matemático, com a inclusão, com a leitura não mecânica e
vazia, mais cheia de sabores e cores, cultura e vida.
Bem, se por um lado temos necessidades
urgentes de uma política que dialogue a educação com demais esferas, também a
escola deve lembrar que “a educação sozinha não transforma, sem ela tampouco a
sociedade muda”. Dessa forma, a escola ao se fazer democrática e com trabalho
coletivo, pode aproveitar de seu grau de autonomia e convidar a comunidade para
participar da elaboração curricular da própria escola, de modo que o ensino
esteja mais próximo da realidade dos alunos e não como mero exercício técnico e
repetitivo. Por um lado a escola ganharia com um ensino que obrigaria pais,
professores e alunos a pesquisar de acordo com as demandas, ousando em
criatividade e produção do saber concatenado com a valorização do conhecimento
local. Por outro a comunidade encontraria na escola o espaço para refletir e
pontuar ações de interesses da coletividade. Textos ganhariam um sentido maior
de serem produzidos como mecanismo de denúncia das situações de opressão e a
leitura teria o significado de entender para intervir na realidade. Que viva
essa esperança de formar um número cada vez maior de leitores proficientes e
estudantes com conhecimento pertinente ou além da série, mas, sobretudo, uma
lição de educação em que a escola fala “presente” na aula de cidadania.
Ana Paula Ferreira
21/09/2015
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