Páginas

terça-feira, 22 de março de 2016

Escola: dependência das datas comemorativas

Escolas começam o ano pedindo um texto ou um desenho sobre as férias. Em fevereiro dão algum desenho da Mônica em trajes carnavalescos. Quando chega abril, o desenho é do Índio e em maio pontua sobre o dia do trabalhador. Em agosto é certo: todas escolas tratarão do tema folclore, mas muitas vezes a abordagem será em torno do Saci. Setembro tem dia da independência, em outubro dia das Crianças, novembro Proclamação da República e Consciência Negra e dezembro é Natal!
            Depois ainda muitos professores se queixam que os alunos estão desinteressados! Não é para menos... Desde a Educação Infantil seguindo a mesma lógica, os mesmos temas no mesmo período e as vezes até com a mesma abordagem!
            Há uma dependência tão grande em relação às datas comemorativas que mesmo no maternal, que atende crianças de 3 e 4 anos cheguei a ver atividade nomeada como “Dia do Telefone”. O que isso acrescenta a essa faixa etária? O que comemorar ou lembrar dessa data significa? É mais importante saber o dia da invenção do telefone ou desenvolver capacidades comunicativas com crianças nesse período do desenvolvimento?
            Precisamos sim falar sobre a questão indígena na contemporaneidade, o negro na sociedade atual, o folclore, carnaval e festa junina como expressões culturais de nosso povo. Para isso, devemos ter cuidado para não cair nas armadilhas do estereótipo, do trabalho raso, da atividade pela atividade, sem fundamentos, ausente de reflexão.
            Ao dar uma folhinha e pedir para pintarem, primeiro tolhemos a imaginação e criatividade de serem os protagonistas de sua própria arte e segundo que apresentamos o vazio e o preconceito, embora o preconceito esteja sempre cheio de algo.
            O vazio porque a atividade não explora uma série de questões, não contextualiza, não mostra o processo histórico, não cria outros significados, não problematiza. Fica um conteúdo esvaziado de sentido. Instiga o preconceito porque ao tratar de forma superficial, cria o estereótipo e limita a figura a um tipo apenas de imagem e de representação, geralmente distorcida, e daí se perpetua o índio que tem sempre penas na cabeça, o trabalhador sempre com roupas de operário, o negro com vestes de escravidão.
            Por isso que embora os alunos façam alguma atividade todos os anos sobre o Dia da Independência ou qualquer outra data, não saberão falar sobre o assunto mesmo estando no 5° ano do Ensino Fundamental, e terem visto isso por vários anos.
Enquanto professores que nos libertemos das datas comemorativas! Não precisamos nos afastar por completo do trabalho com datas, afinal datas festivas precisam ser lembradas como expressão cultural, mas que coloquemos o assunto na importância que possui, sem tratá-lo como evento, ou fato superficial, indagando se é importante a data ser estudada com determinada turma, escolhendo as datas que convém serem trabalhadas com aquela faixa etária e com qual abordagem. 

Ana Paula Ferreira

02/01/2016

2 comentários: