A
escola enquanto instituição social não se isola territorialmente. Além de
possuir janelas e portas com possibilidade de receberem novos ares, compreende
também pessoas que transitam em seu ambiente e que carregam em si a marca da
onde vieram, da onde falam, da onde pensam.
Devido a essa condição de
pertencimento à sociedade, a escola cumpre o papel que lhe é exigido por leis,
parâmetros, referencial curricular. Isso é uma forma de se organizar
politicamente a escola, minimizando as contradições regionais, sociais,
econômicas, em busca de coordenadas gerais no qual a escola se torne um espaço
propulsor nas discussões das demandas de uma nação. O sociólogo Florestan
Fernandes já sinaliza essa importância da instituição escolar, associada a um
plano social, que na visão desse teórico ela deveria atingir altos patamares de
racionalização através das disciplinas curriculares e ainda uma consciência
cívica de modo que a população pudesse participar cada vez mais das decisões
políticas. Como disse uma vez em entrevista "Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e
desemprego como as que temos".
O problema é que na atual conjuntura
de um Estado que segue ditames do capitalismo, das leis do mercado, a escola é
vista como espaço pragmático e utilitarista, devendo formar quadros de
trabalhadores. O espaço escolar é
invadido por esse paradigma e esse é um reflexo nefasto porque lhe retira a
condição da própria origem da palavra “escola”, que em grego quer dizer “lugar
do ócio”, no sentido de ocupar o tempo livre com criatividade, discussão de
temas e assuntos, estudo e se contraporia a ideia de ‘negócio’, que
etimologicamente quer dizer negar o ócio.
Não é a toa que a escola imita a
fábrica com seus apitos (opa, sinais), com seus muros altos, com a
compartimentação de salas de aula e profissionais (professores) especialistas
que pouco dialogam com as outras áreas. Aula no pátio é coisa rara (a não ser
pelo professor de Educação Física), aula com projetos é visto como ineficiente,
afinal não trabalha as perguntas e respostas da Prova Brasil, aula com jogos é
ainda associada a “passar o tempo”.
O ruim é que talvez por desconhecimento,
talvez por ser mais cômodo, toda escola tem seu grau de autonomia curricular
legitimado por lei e que raramente é utilizado consoante ao Projeto Político
Pedagógico. Refiro-me ao artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB9394/96) que
garante a cada estabelecimento de ensino sua estruturação curricular assentada
na discussão com a comunidade escolar.
Assim, há um programa curricular
nacional, o hegemônico, o que estimula em linhas gerais o que é necessário que
todos aprendam. Entretanto, é também possível que cada escola faça seu próprio
currículo, partindo do senso comum da localidade, dos saberes populares, da
história e do conhecimento microrregional e dialogando com o mundo, com a
sociedade, através de uma participação com os profissionais da educação, alunos
e familiares.
Quando digo profissionais da educação estão subtendidos não
somente os professores e a direção, mas inclusive as merendeiras, cuidadores,
pessoal da secretaria e da limpeza, lembrando que todos em suas atividades
acabam por educar e possuem um público que é específico e precisam, portanto de
participar do plano da escola. Em relação aos familiares, é sabido que a
criação de uma participação cada vez mais profunda com a comunidade é um
desafio para boa parte das instituições escolares, mas é um dever democrático
buscar essa inserção dos responsáveis diretos pelos alunos nos debates e nas
definições do currículo escolar.
Dessa forma, a escola usará suas portas e janelas para entrar
não somente leis e pessoas, mas ideias, conhecimento de mundo e romperá aos
poucos com a ordem capitalista que se instala na linha de produção escolar
quando esta adota o mesmo currículo pasteurizado que outras escolas de
realidades diferentes. Amparada na sua terra e nas suas pessoas, a escola pode
pensar sua estrutura, sua filosofia, seu currículo, concatenado com seu projeto
político pedagógico.
Quem sabe assim a escola deixe de ser apenas um espaço dentro
da comunidade para ser um espaço de pertencimento, aliando conhecimento popular
com conhecimento científico, preocupação com o saber e com uma ação social,
teoria e prática, global e local.
Ana Paula Ferreira
16/10/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário