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domingo, 20 de março de 2016

Que nos libertemos em comunhão!

É muito comum na mesma área de trabalho haver pequenas rivalidades, dissabores, ausência de diálogo entre profissionais. Exemplificando o campo da educação que é o terreno onde piso, há certo mal estar entre professores da lei 100, os concursados e os designados. Em termos municipais há a incoerente diferença salarial entre as professoras regentes de turma do Ensino Fundamental I (quase todas com nível superior) e os professores regentes de aula, os PII, que provoca comparações e cria espaço para uma hierarquia simbólica onde na verdade ela não existe. Nesse cenário nos aprisionamos em nossos afazeres cotidianos e nos impossibilitamos de superar os percalços da educação.
            Quantos de nós já não ouvimos: “Fecho a porta da sala e faço o meu trabalho”? Não quero dizer com isso que o professor dessa linha de pensamento não faça um bom trabalho pedagógico, mas se nega a aprofundar o que a educação nos mostra ser: um caminho para nos libertarmos em comunhão.
            Liberdade consiste em ter tempo livre; em não precisar ser escravo de dois ou três períodos para lecionar diante da miséria salarial; de termos dinheiro suficiente para o lazer; para além de educarmos os filhos de outros, termos tempo para nossos filhos; tempo livre para formação política para sabermos de nossos direitos e não só dos deveres.
            Seríamos então livres diante da ditadura de uma sociedade que sucateia o trabalho docente ao ponto de lhe cercear a produção intelectual e transformá-lo em mero executor de programas? Estaríamos exercendo a liberdade ao sermos obrigados a trabalhar dois turnos ou mais diante do peso das responsabilidades financeiras contrastando com salários insuficientes?
            Se os problemas entre os professores não são individuais, mas marcas de uma categoria, o posicionamento de embate deve ser de um coletivo como expressão de um grupo que não apenas ensina conteúdos, mas ensina com o exemplo da luta.
Ser educador é acreditar em mudança! Ser educador é criticar quando necessário, mostrando que a contradição que dinamiza o processo, embora a não concordância para aqueles que ocupam o poder cause um mal-estar.
Queremos liberdade não a conta-gotas, queremos mais tempo para o lazer, para o estudo, para formação humana e profissional. Temos a lei 11.738 que nos ampara! Temos o PNE que pontua em uma de suas metas a equiparação salarial do docente com outros profissionais que tenham curso superior.  
Para exercermos a liberdade de escolha por um cargo apenas de 30hs – tal qual a proposta do Executivo - precisamos de um salário realmente compensatório, pois caso contrário é nos aprisionarmos nas amarras financeiras. Ninguém quer cansar de trabalhar! Precisamos! E talvez representantes políticos fechem os olhos para isso.
Não há processo de libertação se não for para todos. Por isso, o projeto encaminhado pelo Executivo municipal de Poços de Caldas não satisfaz haja vista que em termos concretos beneficia só uma parcela dos profissionais da educação. Faz parte da prática dominante o “dividir para conquistar”! Mas, perante isso, que não nos rendamos a discursos mesquinhos e individualistas, principalmente daqueles que já se beneficiaram uma vez da redução da carga horária e hoje novamente querem fazer esse movimento. Que continuemos na luta para que a educação deixe de ser mero discurso político em época de eleição e passe a ser atenção verdadeira daqueles que nos representam.


Ana Paula Ferreira
03/02/2016

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