É
muito comum na mesma área de trabalho haver pequenas rivalidades, dissabores,
ausência de diálogo entre profissionais. Exemplificando o campo da educação que
é o terreno onde piso, há certo mal estar entre professores da lei 100, os
concursados e os designados. Em termos municipais há a incoerente diferença
salarial entre as professoras regentes de turma do Ensino Fundamental I (quase
todas com nível superior) e os professores regentes de aula, os PII, que
provoca comparações e cria espaço para uma hierarquia simbólica onde na verdade
ela não existe. Nesse cenário nos aprisionamos em nossos afazeres cotidianos e
nos impossibilitamos de superar os percalços da educação.
Quantos de nós já não ouvimos: “Fecho
a porta da sala e faço o meu trabalho”? Não quero dizer com isso que o
professor dessa linha de pensamento não faça um bom trabalho pedagógico, mas se
nega a aprofundar o que a educação nos mostra ser: um caminho para nos
libertarmos em comunhão.
Liberdade consiste em ter tempo
livre; em não precisar ser escravo de dois ou três períodos para lecionar
diante da miséria salarial; de termos dinheiro suficiente para o lazer; para
além de educarmos os filhos de outros, termos tempo para nossos filhos; tempo
livre para formação política para sabermos de nossos direitos e não só dos
deveres.
Seríamos então livres diante da
ditadura de uma sociedade que sucateia o trabalho docente ao ponto de lhe
cercear a produção intelectual e transformá-lo em mero executor de programas?
Estaríamos exercendo a liberdade ao sermos obrigados a trabalhar dois turnos ou
mais diante do peso das responsabilidades financeiras contrastando com salários
insuficientes?
Se os problemas entre os professores
não são individuais, mas marcas de uma categoria, o posicionamento de embate
deve ser de um coletivo como expressão de um grupo que não apenas ensina
conteúdos, mas ensina com o exemplo da luta.
Ser educador é acreditar em mudança! Ser
educador é criticar quando necessário, mostrando que a contradição que dinamiza
o processo, embora a não concordância para aqueles que ocupam o poder cause um
mal-estar.
Queremos liberdade não a conta-gotas,
queremos mais tempo para o lazer, para o estudo, para formação humana e
profissional. Temos a lei 11.738 que nos ampara! Temos o PNE que pontua em uma
de suas metas a equiparação salarial do docente com outros profissionais que
tenham curso superior.
Para exercermos a liberdade de escolha
por um cargo apenas de 30hs – tal qual a proposta do Executivo - precisamos de
um salário realmente compensatório, pois caso contrário é nos aprisionarmos nas
amarras financeiras. Ninguém quer cansar de trabalhar! Precisamos! E talvez
representantes políticos fechem os olhos para isso.
Não há processo de libertação se não for
para todos. Por isso, o projeto encaminhado pelo Executivo municipal de Poços
de Caldas não satisfaz haja vista que em termos concretos beneficia só uma
parcela dos profissionais da educação. Faz parte da prática dominante o
“dividir para conquistar”! Mas, perante isso, que não nos rendamos a discursos
mesquinhos e individualistas, principalmente daqueles que já se beneficiaram
uma vez da redução da carga horária e hoje novamente querem fazer esse
movimento. Que continuemos na luta para que a educação deixe de ser mero
discurso político em época de eleição e passe a ser atenção verdadeira daqueles
que nos representam.
Ana
Paula Ferreira
03/02/2016
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