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domingo, 24 de março de 2013

A escolha do livro "Saltimbancos"


   É muito difícil escolher um texto teatral. A escolha envolve caráter pedagógico, moral, político, relação personagens e atores e afinidade. Em se tratando de afinidade, gostei da peça “Saltimbancos” desde o primeiro contato. Fascinei-me pela analogia que Chico Buarque estabeleceu entre cada animal e um tipo de trabalhador na sociedade, e ainda, de forma tão lúdica conseguiu mostrar a revolução dos oprimidos contra os patrões.
         No que diz respeito ao aspecto pedagógico, o texto também tinha muito a oferecer, pois ganha no roteiro altamente criativo, atravessa a prosa e a poesia numa grande ludicidade critica e brinca com as palavras mediante uso de diversos recursos como rima, metáfora, aliteração, assonância, etc. Trata-se de um texto rico, que dependendo da maneira como é utilizado, é capaz de agradar esteticamente e aguçar a inteligência, pois foge dos padrões de “A babá cuida do bebê”.
         A sinopse basicamente consiste em quatro animais que se juntam para se livrarem dos seus antigos patrões que lhes exploravam. Portanto fica clara a moral: sentimento de união dada compreensão de pertencimento a um grupo (trabalhadores, ou oprimidos, ou animais subservientes...) e assim o uso da habilidade individual em prol de causas comunitárias, tendo em vista que o jumento ataca usando o coice, o cão morde, a gata unha, e a galinha bica.
         O caráter político está no delineamento de que se espera uma sociedade que os trabalhadores se unam formando uma sociedade mais justa, mais democrática e dialógica, longe da tirania daqueles que nada produzem, mas tudo consomem: os patrões, ou melhor, a burguesia.
         Em se tratando de relação personagens e atores, era algo não muito trabalhoso, pois nenhuma criança precisa ser a árvore da peça, escondida por um monte de folhagem. Todos teriam importância e seriam bem vistos, pois mesmo que houvesse os quatro personagens principais, haveria muita música que seria dançada pelos demais alunos.
         A escolha do texto é um fator decisivo para o desempenho alegre de toda a turma, a satisfação em participar e de fazer cada vez mais belo. A experiência de trabalhar com a peça “Saltimbancos” mostrou que se tratou de uma escolha muito pertinente, pois as crianças encararam o desafio, com a alma, rendendo inclusive prêmio especial do júri na 6ª Mostra de Peças Curtas de Teatro.
         Cada escolha envolve muitas renúncias e, portanto, deve ser a mais acertada para o grupo.

                                                                                                                                                                                                                    

segunda-feira, 11 de março de 2013

O teatro na sala de aula: a experiência com a peça “Saltimbancos”


         Nós educadores sabemos da importância do teatro para formação do sujeito. Conhecemos seu potencial de acender as capacidades expressivas e artísticas, de fazer com que o menino mais tímido e inibido da sala se mostre o mais dinâmico e ousado, ou que o mais agressivo, consiga controlar seus impulsos, em prol de uma atividade prazerosa, porém séria, de movimento e ao mesmo tempo de reflexão, que vai do plano individual de expressão ao plano coletivo de cooperação e respeito.
         Entretanto, muitos professores tiveram uma escolaridade marcada pelo “eu falo e tu escutas” e não muitos vivenciaram enquanto alunos, a arte do teatro, e portanto, trabalhar com teatro em sala de aula, traz uma insegurança para muitos profissionais.
         Por isso, deixarei aqui, ponto a ponto, a experiência de como foi trabalhado a peça “Saltimbancos”, na escola municipal Dr. Pedro Afonso Junqueira, com uma turma de 3º ano, como forma de compartilharmos nossas ideias e experiências.
         O plano de aula objetivou contemplar principalmente a Arte e o Português, lembrando que o 3º ano é o fechamento de um ciclo de alfabetização, em que se espera que a criança leia e escreva de maneira autônoma e proficiente.



         Em cada trecho da peça, se fazia a leitura coletiva e individual, incentivando o ato de ler com pontuação e atuação, lembrando aos educandos que ao representarem no palco, o texto lido e memorizado, deveria ser espontâneo, com leveza e sentimento, e não um ato mecânico de uma leitura descontextualizada. O teatro então reanimou o ato de ler com uma finalidade social e cultural.
         Junto a essa leitura, se fazia a articulação com outros gêneros textuais sobre a mesma temática que estava sendo trabalhada. Do mesmo modo que a Arte se agarrava ao Português, os outros gêneros se articulavam ao gênero teatral, formando uma teia de conhecimentos.
         De maneira sintética, a organização da peça teatral seguiu a seguinte ordem:
·        Escolha do texto.
·        Ensaio: leitura e análise do texto, memorização, marcação do espaço, dança, ensaio por parte e ensaio corrido.
·        Criação do figurino.
·        Apresentação do espetáculo.

         Nas próximas postagens, acompanhe como foi a realização de cada item!
                                                                           Ana Paula Ferreira                  

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A prática docente no plano de aula e o uso do blog


         De três em três anos mudam-se os livros didáticos nas escolas. Isso possibilita esse material a todos os alunos em todos os municípios do Brasil. Os professores olham vários livros de diversas editoras e se decidem por aqueles que mais cabem à filosofia de ensino da instituição e do currículo. O custo disso é extraordinário aos cofres públicos e sem questionar a importância, é interessante pensar o porquê se destina tanta verba para compra de livros e tão pouco em relação ao defasado salário docente.
         De acordo com Torres (2000) essa preferência pelos livros didáticos faz parte da política neoliberal ditada pelo Banco Mundial aos países em desenvolvimento. A justificativa é que menos oneroso o investimento em livros didáticos no comparativo ao aumento salarial de professores e que o texto escolar condensa conteúdos e atividades capazes de orientar alunos e docentes.
         Nota-se, portanto, a legitimação do discurso como se o professor fosse mero executor de um conteúdo programático, retirando seu papel de intelectual.
         Se considerarmos que a escola é um espaço de transformação do indivíduo e da realidade, é primordial que profissionais da educação sejam também transformadores. Mudança significa liberdade de escolher outro modelo e coragem de executar e é ilógico pensar em paradigmas diferenciados quando se segue o discurso hegemônico. Sem dúvida, seguir o que já vem hierarquicamente estipulado é o caminho mais fácil. O texto, os exercícios para contemplarem determinado conteúdo, as sugestões de produção de texto ... tudo  já vem escolhido de antemão. Contudo, o uso do livro didático deve ser apenas mais um mecanismo para possibilitar a educação, mas não o principal.
          Sabemos que cada turma tem suas peculiaridades, porém movimentamos nossa metodologia na mesma orientação de turmas anteriores. Defendemos que as aulas devem ser dialógicas e que o conhecimento do aluno deve ser valorizado, mas nas aulas ostentamos a cultura erudita e nos esquecemos da cultura popular, como se subliminarmente disséssemos aos nossos alunos que a cultura da elite é mais importante. Criticamos pais que tem inúmeros filhos, pela falta de planejamento familiar, mas esquecemos de fazer o nosso planejamento educacional. Apontamos o problema de crianças que não leem, mas preocupamos com o último episódio da novela, deixando o livro apenas na cabeceira.
         A prática docente está recheada de incoerências com os nossos discursos. A aliança entre prática e teoria é uma consequência de estudo e reflexão, onde se percebe que o homo faber se alia do homo sapiens.
         Sendo o objetivo de muitos educadores, uma prática educativa libertadora, o professor também tem que se sentir como sujeito do processo educativo, criando e recriando, mediante pesquisa, análise reflexiva e troca de experiências. Como bem dizia o mestre Paulo Freire: “Por isso é que, formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.” (2009:39)
        Buscando essa reflexão sobre a prática que vem a razão de existir desse blog. Que ele sirva como um mecanismo de diálogo entre educadores que querem repensar a educação, as metodologias, a avaliação, os conteúdos.
              Por isso, sejam bem-vindos!

Professora Ana Paula Ferreira
Fevereiro/ 2013