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sábado, 7 de janeiro de 2023

Escolha do texto teatral para trabalhar na escola


Na escola podemos trabalhar com um acervo enorme de textos e transformá-los em encenação.

Mas, tendo em vista que o ano escolar é extremamente curto para tanto conhecimento a ser apresentado aos estudantes, precisamos de um crivo, de critérios que estabeleçam o porquê de uma coisa e não de outra. 

Qual o crivo?

Primeiro não abandonar o currículo e o teatro tem uma possibilidade enorme para isso, afinal é uma arte que se articula com diversas outras linguagens: leitura, literatura, música, dança, encenação corporal, fotografia. 

O teatro em si é um instrumento para trabalhar com várias competências socioemocionais, pois exige a disciplina de quem espera a vez do outro dar a fala; a segurança de encarar uma plateia; a autoestima daqueles que entenderam que podem se posicionar no mundo; o companheirismo de estar junto ao outro; a solidariedade de ajudar o colega a se expressar; a criatividade na interpretação teatral.

Além disso, o texto pode colaborar com as áreas de saber que são referentes ao currículo daquele ano letivo e com o próprio perfil da turma e faixa etária. 

Assim sendo, teve ano escolar que eu mesma fiz o texto e busquei aproximar com os componentes curriculares estudados. No 5º ano por exemplo, em História, é parte do currículo o tema da escravidão e a colonização portuguesa no Brasil, daí, criei duas peças para sensibilizar sobre os assuntos. E isso é outra coisa bacana no teatro, pois o conhecimento científico em si, traz a bagagem de dados, fatos, compreensão de causas e consequências, porém, é com a arte que tocamos a alma para impactar sobre problemas que afligem nossa sociedade decorrentes de escolhas tomadas no passado. 

Já numa turminha de 2º ano, aproveitei o conteúdo do folclore e a cultura popular e construí uma peça que permeava esse tema junto a questão da sustentabilidade. Foi incrível ver os mais arteiros envolvidos com a peça, deixando a bagunça para a hora do recreio...rsrsr



Peça "Escravidão no Brasil" de 2010

Apresentação na Urca em 2010

Agradecimento final de toda equipe. Colaboração do artista Dema Melo.

Peça "Folclore e sustentabilidade" de 2014


Também teve ano que transformei a história "Menina bonita do laço de fita" em peça teatral porque a turma às vezes agia com palavras de intolerância uns com os outros, seja pela cor da pele, religião, cultura (tínhamos duas estudantes da cultura cigana) ou dificuldade de aprendizagem. 

Apresentação da peça "Menina bonita do laço de fita" na quadra da escola em 2013

Diante de uma turma de 3º ano que lia muito bem, mas no grupo havia alunos apáticos, que não demonstravam interesse em muitas atividades eu levei o Saltimbancos, uma peça já pronta, do Chico Buarque, e que precisei apenas fazer alguns cortes para ficar mais dinâmica na encenação infantil. A peça tinha muitas músicas alegres, de esperança, de luta, de parceria e isso fortaleceu entre os estudantes a ideia de ninguém "soltar a mão de ninguém". Quem estava mais solitário na apatia se viu acolhido e foi uma peça linda. 

Ensaio da peça "Saltimbancos" de 2012


Já em 2016, eu era supervisora escolar de turmas de 1º ao 5º ano, e uma turma de 3º ano era extremamente sem limites. Muitas professoras passaram pela mesma turma, não criando uma identidade dos alunos com ninguém. Carteiras ficavam fora do lugar, crianças fugiam da sala, lixo no chão. A professora que assumiu o desafio no final do ano me deu a liberdade de buscarmos no teatro a solução. Eles desenvolveram uma releitura que fiz de Peter Pan, peça que foi intitulada como "Poluição na terra do nunca" e o resultado foi maravilhoso. 

Ana Paula Ferreira

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