O que nos motiva a ser professor nos
tempos atuais?
Tempos marcados por uma sociedade em que
a informação é produzida em série e a internet vem a mostrar que o conhecimento
não está fechado num gueto. Tempos em que as relações sociais estão cada vez mais
líquidas e a tecnologia tem tomado o espaço do olho no olho; tempos em que a
educação não é mais a porta de entrada no mercado de trabalho porque esse não
incorpora todos. Nesses tempos é comum o sentimento de impotência ou uma total
alienação do sujeito de si e do mundo, exemplificadas no culto ao prazer e
afastamento a tudo que pede reflexão, observação e atenção.
Diante desse cenário social não é um
alento a carreira docente que segue sob um trabalho de leitura, crítica,
conhecimento sobre esse contexto. Mas então volta a pergunta: por que escolher o magistério? Pensemos em situações mais próximas da carreira então.
Salário? Bem, sabemos que em muitas
cidades ainda não se paga nem o piso salarial, que hoje está estipulado em R$
2.135,00. Em Poços de Caldas o salário inicial é de R$ 984,00, ou seja, bem
abaixo do piso, fazendo com que inclusive muitos abandonem a profissão.
Alguns podem argumentar que é um
atrativo porque o professor não trabalha fins de semana. Ora, isso também é uma
inverdade lembrando que os professores levam inúmeras provas para corrigir,
cadernos, planos de aula para fazer o que muitas vezes compromete o fim de
semana. Voltando no exemplo da prefeitura de Poços de Caldas, não se destina ao
professor o 1/3 estipulado em lei que o professor deve ficar fora de sala de
aula para planejamento e estudo.
Então, seria a motivação principal
porque é um trabalho mais simples para exercer do que outras carreiras? Daí é
cabal perguntarmos: Ensinar é simples? Gerenciar conflitos é simples? Conseguir
fazer com que o outro supere suas próprias dificuldades é simples? Não! Não são
tarefas simples o que o professor faz cotidianamente ainda mais numa sociedade
que acha que a escola pode dar conta de tudo, mas não percebe que o espaço
escolar é apenas uma versão reduzida dos problemas sociais.
A motivação estaria nas políticas
públicas? Também não é daí que acharemos nossa justificativa haja vista que nacionalmente
vê-se cortes área da educação ou mais assustador o que aconteceu em São Paulo com
a corrupção da merenda. Percebemos, portanto, que as políticas públicas não
estão a remar a favor da educação.
Seria então o status social? O
reconhecimento da importância do professor dentro da sociedade que motivaria
nossa entrada na carreira do magistério? Isso também é mentira, quando os pais
tomam a palavra de forma agressiva ou toda a sociedade julga quando professor
faz greve.
Se não são os motivos acima listados que
nos direcionam a estar na docência, é preciso que repensemos do que “Por que
ser professor?”. Não quero dizer com isso que ignoremos a depredação da
carreira. É necessário denúncia, luta e participação em grupos maiores que nos
representem, pois se há políticas públicas pouco democráticas para educação:
participação! Se há sucateamento da carreira docente: participação! Se há uma
sociedade que nos aliena: participação! Porém, só tem como haver participação
enquanto contraponto ao que ocorre se houver mudança de mentalidade e isso é
prerrogativa da escola, e isso é função docente!
Além de razões sistêmicas há também os
motivos subjetivos, além das questões contextuais há os sonhos e esperanças que
guiaram um dia a escolha para o magistério. Lembrar dessas questões existenciais
que nos conduziram a ser professor é possibilitar que reflitamos em que sentido
já fomos esmagados pelo sistema e se há utopias para nos alimentar. Embora haja
um quadro que nos oprima, há os sonhos que podem nos revigorar, há a vontade de
fazer uso da palavra para que mais pessoas percebam suas próprias amarras e
juntos construamos outro modelo de sociedade. Reviver as utopias é uma forma de
termos de trazer a pulsação, o calor, a energia. Um bom início de ano letivo a
todos que conscientemente escolheram ser professor e não se esqueceram de seus
sonhos!
Ana Paula Ferreira
jan/2017
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