É compreensível o comércio, a mídia e a propaganda investirem no Dia dos
Pais, afinal, se alimentam do consumo e precisam instigar a compra através da
lembrança de um pai carinhoso e presente, mesmo que boa parte dos lares não
tenha essa figura paterna.
A
indústria cultural cria esse imaginário como tantos outros e embora saibamos
que historicamente muitas mudanças ocorreram na
configuração da família ainda se tem a imagem comercial de um pai, uma mãe, e
geralmente um casal de filhos se fartando num lindo café da manhã com sorrisos
entre copos de suco ou pães com margarina.
Esse imaginário parece se reproduzir quando alimentamos a ideia dentro
do espaço escolar e ao invés de cultivar o respeito por todos os modelos
familiares, seja o tradicional, o monoparental ou o homoafetivo reforçamos o
Dia das Mães e o Dia dos Pais.
Sim... Podemos muito bem cultivar na criança que pai não é apenas o
progenitor, que pode ser o avô, o tio, o padrasto, dependendo muito mais dos
laços afetivos do que os determinantes sanguíneos. Esse trabalho é feito, mas
isso não retira o estereótipo de se estar valorizando um padrão familiar que
não é o único.
A solução é tão simples: faz-se o Dia da Família! Mas, o simples é
dotado também de grande complexidade. Ao se adotar o Dia da Família dá-se a
impressão de não estar respeitando aqueles pais presentes. Isso se trata de um
grande engano, pois esse pais também seriam contemplados nesse dia.
Sonhando um pouco mais, ao invés de Dia da Família poderia ser
organizada a Semana da Família onde palestras, oficinas e apresentações
culturais seriam ofertadas a toda comunidade num horário acessível à classe
trabalhadora. Temas de ordem ‘violência doméstica’, ‘indisciplina’,
‘empreendedorismo feminino’ e ‘sexualidade’ poderiam fazer parte do cronograma
para levantar questões do dia-a-dia, dúvidas que a família possuí na abordagem
com os filhos ou mesmo empoderar as chefes de família, que segundo pesquisas do
IBGE já constituem 40% das famílias. Oficinas ministradas pelas avós seriam
formas de valorizar essa personagem importantíssima na organização familiar,
tendo em vista o número elevado de mães que ao participarem do mercado de
trabalho não conseguem ter muito tempo na educação dos filhos. Quantas oficinas
interessantíssimas poderiam surgir! De culinária, costura, artesanato... As
apresentações culturais ficariam a cargo das professoras e dos próprios alunos,
não mais constrangidos porque o pai não estaria presente.
Se queremos que a sociedade mude, precisamos mudar. Se queremos que haja
mais tolerância e respeito a enorme diversidade, não podemos tabular Dia de
Pais ou Dia de Mães. Se queremos que a comunidade participe, precisamos
repensar os mecanismo em que é convidada a participar.
Que comecemos nessa reflexão.
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