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domingo, 15 de outubro de 2023

Educação na rede municipal pública de Poços de Caldas

 



            Poços de Caldas é uma cidade bonita por natureza, agraciada com sua serra São Domingos e caracterizada pela sua água termal que a possibilitou receber ilustres turistas ao longo de décadas. Assim, foi se construindo com suas praças, balneários, cafés, cassinos e aqueles ou aquelas que não tivessem condições de morar próximos a essa região central eram periferizados em habitações populares que se formavam em bairros que não tinham inicialmente nenhuma estrutura para receber centenas de pessoas. Essa discrepância entre centro e bairros ficou inclusive mais evidente com o processo de industrialização, que contribuiu para que inúmeras famílias de cidades vizinhas migrassem para Poços de Caldas em busca de melhores condições de vida.

            Assim, Poços não deixa de ser uma ilustração de uma desigualdade social própria de nosso país, na qual a distância entre os que exercem o poder institucional e os trabalhadores não é apenas uma questão de local de moradia, mas de oportunidade de fala. Esse abismo entre classes sociais não deixa de ser reflexo histórico de uma elite que liderou a cidade e se colocou arrogantemente como quem sabe o que faz, negando o processo de escuta das vozes que ecoavam dos bairros, das escolas e das ruas.

            O mesmo ocorre na educação em Poços de Caldas. Tal visto que se ouvissem de fato os professores da rede municipal, se atentariam aos problemas do não pagamento do piso salarial, a falta de manutenção nas escolas que carecem de reparos estruturais, a ausência de livros e materiais no Centro Municipal de Línguas, a necessidade de haver concurso público para professores de apoio acompanharem os estudantes com deficiência em sala de aula. Se os pais fossem escutados, se perceberia a queixa referente a falta de ônibus escolar para os alunos que moram a mais de 5 quilômetros de distância da escola ou a necessidade de Programas Municipais da Juventude de unidades que foram fechadas. Se a equipe gestora fosse percebida, seria evitada a troca de professores no final do ano. E... até mesmo o Conselho Municipal de Educação, representação da sociedade civil organizada, se fosse respeitado, teria as respostas dos ofícios que foram encaminhados a Secretaria de Obras e ao Ministério Público.

            Se falta diálogo, o dinheiro para educação que é público, não é administrado atendendo aos anseios públicos. E assim, ao contrário de precaver os problemas, direciona-se um montante considerável com projetos de qualidade duvidosa e, que se houve melhorias, é justamente porque professores não se silenciaram. Exemplo disso ocorreu com o projeto denominado Ativamente, cujo o questionamento não recaí apenas sobre o custo, mas sobre a entrega do serviço. Quase um semestre depois da parceria público privada que houve uma coordenação específica de dentro da Secretaria para acompanhar mais de perto as ações da empresa. Em pesquisa realizada pelo Conselho Municipal para coletar informações sobre a opinião dos educadores que trabalhavam diretamente com o Projeto, foi identificado que havia uma média de 5 estudantes por computador para realizar as atividades, o material foi considerado por muitos educadores como de baixa qualidade e menos de 10% dos respondentes afirmaram que havia uma relação entre o Projeto Ativamente e o que era ensinado em sala de aula.

Nesse processo político, é retirado o foco em relação a população. E além disso... é retirado também o foco nos direitos sociais, uma vez que aspectos administrativos ganham mais peso do que a educação. Isso porque se falta concurso público para suprimento de vagas de professores, e a justificativa do prefeito Sérgio é a espera pela aprovação do regime estatutário, ao invés de corrigir o problema, o acentua, coloca seus projetos acima de demandas da população e desconsidera o fato que escolas com um quadro de funcionários efetivos possuem melhor desempenho do que aquelas que anualmente mudam boa parte de sua equipe.

Assim, diante desse antidiálogo, é preciso lembrar que a atividade fim de uma Secretaria de Educação é o fornecimento da educação. Esse é o objetivo principal. Por mais que seja obvio, é importante esse destaque para frisar que as outras atividades (contratação de funcionário, obras, manutenção, investimento) devem se subordinar a esse objetivo principal, e, portanto, quando a Secretaria de Gestão de pessoas não provê um quadro completo de servidores que seguirão até o final do ano, estamos invertendo a ordem das prioridades.

Se tivemos pouco tempo histórico na nossa cidade de orçamento participativo, comparado a décadas de um grupo que se diz técnico e ignora seu povo, que compreendamos que o processo democrático não é enfeite político, mas uma ferramenta de atender de fato o que a população precisa ao invés de ditar leis ou planos de palacetes como se conhecesse tudo o que precisa ser feito na questão sociopedagógica.

 

Ana Paula Ferreira

Integrante do Coletivo Educação

Texto publicado no Jornal da Cidade - 10/10/2023


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