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sábado, 7 de outubro de 2023

Direitos Humanos e o Feminismo

 

Imagem do site: https://contrafcut.com.br/noticias/luta-das-mulheres-por-direitos-humanos-e-permanente/


         Os Direitos Humanos não nasceram prontos de fábrica. Foram séculos de luta e para fins didáticos, o jurista Vasak os dividiu em três grandes gerações: os relacionados à liberdade, à igualdade e à fraternidade. Isso não significa que se estagnaram num momento histórico ou que se consolidaram de maneira uniforme em todo lugar da Terra. Apenas é uma forma de compreender dentro de uma conjuntura.

Os direitos de apreço à liberdade se situam no que foi denominada de Primeira Geração, tendo como pano de fundo a Revolução Francesa. Os pedidos de ordem eram na questão civil e política, de modo que, resumidamente, as pessoas tivessem liberdade de expressão, de ir e vir, de votar e serem votadas. Contudo, é de chamar atenção que embora fossem Direitos Humanos, e obviamente as mulheres também sejam humanas, o mesmo peso no campo legal não era direcionado às mulheres, ao ponto de Olympe de Gouges ter sido guilhotinada quando discutiu a falta de acesso aos direitos vivenciado pelas mulheres. Basta lembrarmos que várias décadas se passaram para que as mulheres conquistassem o direito ao voto.

A Segunda Geração é marcada pelo valor da igualdade, haja vista que se situaria junto à expansão do Estado de Bem Estar Social. Estão aqui os direitos sociais, que devem ser usufruídos por todos, ou seja, a educação, saúde, saneamento básico, segurança, etc. Aqui novamente as mulheres não são colocadas no âmbito dos Direitos Humanos, uma vez que o direito ao estudo muitas vezes era negado, e a mulher era tratada como cidadã de segunda categoria, um “segundo sexo”, como nomeou Simone Beauvoir

Por fim, na Terceira Geração, alinhada à ideia de fraternidade, estaria a defesa de grupos minorizados socialmente e a importância de políticas públicas que os retirem do espaço da marginalização política e econômica. Nos grupos oprimidos, estariam os indígenas, população negra, pessoas com deficiência, as mulheres, dentre outros. 

Daí segue a pergunta: Como o feminismo poderia colaborar para os Direitos Humanos? Ora, como dizia a escritora bell hooks... o feminismo é para todo mundo e, nesse sentido, se nota um teor da ideia de igualdade, de distribuir direitos e o que humanidade produziu de melhor. Não há supremacia. Não há hierarquia. Há a defesa de uma sociedade mais igualitária entre homens e mulheres. Não é inverter a lógica e as mulheres oprimirem os homens. É inclusive combater que essa dinâmica de opressão, pelo marcador de gênero, raça, orientação sexual, nacionalidade ou qualquer outra coisa. Isso porque se entende que essas segmentações sociai nada mais são do que uma forma de fragmentar os trabalhadores, e, portanto, facilitar a continuidade de um sistema econômico que mantém a desigualdade, massacra indígenas, expulsa população rural do campo, mata moradores da favela, culpabiliza jovens pobres pela sua condição, controla corpos femininos e assassina a população LGBTQIA+.

Esse é o pressuposto de todos tipos de feminismo? Não. Por outro lado, esse feminismo, que é um feminismo revolucionário, ou nas palavras de bell hooks, visionário, é o que possibilita que de fato a justiça social, mediante uma luta que se faz constante em se tratando de uma perspectiva anti imperialista, antirracista, anti neoliberal.

Por que isso? Porque caso contrário, não alcançamos de fato a democracia plena, mas damos continuidade na opressão, dessa vez de, por exemplo, uma mulher oprimir a outra. Se antes o discurso mais corrente era de que homens são mais inteligentes para se valerem de espaços de poder, hoje essa narrativa vai sendo aos poucos substituída pela ideia de que independente de homem ou mulher, terá oportunidade quem for competente. O velho discurso meritocrático se fazendo presente, taxando algumas de fracassadas e colocando holofote em outras, como se esse binarismo fosse resultado apenas do esforço. 

Se queremos seguir na defesa dos Direitos Humanos que se leve em consideração a tríade classe social, gênero e raça. Deixar o aspecto classista subalternizado é contribuir para o feminismo liberal que pouco avança na ideia de igualdade. Ignorar a questão racial por sua vez é dar continuidade ao Pacto da branquitude e ao invés de se defender direitos, entrar numa seara de defesa de privilégios. Portanto, um feminismo revolucionário pode contribuir e muito na defesa dos Direitos Humanos, de modo que liberdade, igualdade e fraternidade ganhem mais sentido para todas as pessoas.

 

Ana Paula Ferreira

Integrante do Coletivo Feminista Mulheres pela Democracia

Texto publicado no Jornal da Cidade - 04/10/2023

 

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