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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Reflexões sobre filhos de políticas públicas

Hoje a mãe de Isabela ficou encantada em ver que a filha de apenas 5 anos, estava preferindo ficar em casa escutando a leitura do livro “Frankenstein”, adaptação de Laura Bacellar, do que ir passear na casa da prima, amiga inseparável de bagunças.
Isso é reflexo de uma criança que desde bebê ouviu estórias... Contos de fadas, fábulas, histórias em quadrinhos e hoje escuta a leitura de obras de mais de cem páginas na qual a mãe lhe conta um ou dois capítulos por dia.
Se a Isabela gosta de livros é também por conta de professoras que todos os dias lhe contam belíssimas histórias e que ela reconta com grande encantamento. Se as professoras contam é porque há livros na creche e esses livros fazem parte de um Programa de livro na escola.
Tem também participação nesse processo as caixas de livros de leitura que foram encaminhadas a todas as escolas de 1° ao 3° ano porque sendo a mãe de Isabela professora, trazia os livros para casa para lê-los para a filha e assim saber o que esperar do livro ao abordá-lo em sala de aula.
Indiretamente, o gosto pela leitura é decorrente ainda das políticas de formação de professores, como por exemplo, o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, na qual pela primeira vez na história da educação do Brasil professores foram remunerados para estudarem e onde a pedra de toque foi tornar a leitura como algo rotineiro e prazeroso na sala de aula.
É reflexo de um investimento maciço em educação ao ponto de se ampliar o número de universidades federais e de pós-graduações possibilitando que a mãe de Isabela faça mestrado e busque trazer para a vida o que aprende na academia.
É consequência de investimentos em Educação nos últimos anos que possibilitaram construções de novas creches, demarcação de um piso salarial para professores (embora não cumprido em Poços de Caldas) e coisas que foram conquistadas, mas que ainda a Isabela não vivenciou como o Instituto Federal, PROUNI, Ciência sem Fronteiras.
E é isso que deixa a mãe de Isabela com um misto de alegria e de tristeza. Alegra-se em ver a filha se deleitando com a leitura, capital cultural que será sua herança. Por outro lado sofre em saber que várias conquistas no campo da Educação a Isabela e sua geração muito provavelmente não tomarão parte.
Se hoje a Educação mesmo com todos investimentos nos últimos anos ainda não é a dos nossos sonhos, tampouco será com a votação da PEC 241 que prevê um congelamento de gastos nessa área por 20 anos. Não conseguimos ensino integral para todas as nossas crianças, nem acabar com o analfabetismo funcional. Não conseguimos incluir de forma digna os que possuem necessidades especiais nem ofertar um ensino que alie disciplinas obrigatórias e as optativas como dança, música ou teatro. Enquanto nação, não conseguimos uma série de coisas, mas sem dúvida estávamos avançando com políticas públicas atinentes com as minorias sócio-culturais ao se possibilitar que o negro e a classe trabalhadora ocupassem espaços que eram privilégio da burguesia.
Saqueiam os investimentos progressivos, amanhã vendem a Petrobrás e junto com ela vão-se embora os 10% do pré-sal para Educação, e daqui alguns anos viveremos um desmonte da educação pública. Hoje é um dos dias em que nos roubam os sonhos de uma educação de qualidade que possibilitaria que os filhos do trabalhador tivessem as mesmas oportunidades que os filhos do patrão.

Fico apenas com a alegria de lembrar a vivacidade da Isabela em aprender... Agarro-me a isso para me sustentar...

Texto também publicado no Jornal da Cidade de 14/10/2016

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