Páginas

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Quem luta educa

Qual é o compromisso que temos com a educação pública? Ser competente e dominar os conteúdos, incluir alunos com dificuldades, agir de forma ética quebrando preconceitos e intolerâncias, avaliar pelo que o estudante apresenta e não mediante comparações, ofertar um ensino com diversidade de metodologias, agregar o conhecimento alheio, aproxima-se da comunidade, incentivar o questionamento e a autonomia. São vários os compromissos que assumimos quando nos propomos educadores e por isso que exercer a autoridade de ensinar é um desgaste psicossocial. Não somos professores apenas das 13 horas às 17h20min e as exigências da profissão faz com que o trabalhador da educação se repense na fulcral pergunta “Que tipo de referência estou sendo?”
Por mais que a sociedade tenha mudado e a figura quase sagrada do professor não exista mais, ainda percebe-se o peso de seu discurso, a intervenção de sua postura, a força de sua palavra. Nas palavras não estão somente informações que explicita ou implicitamente, revelam nossa visão de mundo, de ser humano, de sociedade e que interferem na educação dos estudantes e das famílias.
Quando há uma chamada nacional para paralisação dos trabalhadores de modo que reajam na defesa de seus direitos e busquem avançar em tantos mais e, os professores agem como se nada ocorresse, que mensagem está fornecendo a seus alunos?
Podemos enumerar diversas concepções de mundo presentes nessa negligência, como por exemplo, que o conteúdo é distante da vida, que não há esperanças em lutar, que exercer o direito a cidadania participativa é somente discurso em aula de História, que se calar e resignar é o melhor remédio.
Sabemos que entre os nossos colegas de trabalho muitos remarão contra as ações sindicais dizendo que não os representam. Porém é importante pensarmos que mudamos qualquer sistema (político, educacional, sindical, etc.) de dentro da estrutura, questionando propondo alterações. Portanto, não será em intervalos na sala de professores com queixas que alteraremos o órgão que nos representa.
Por vezes também serão lançadas dúvidas sobre o trabalho dos que aderem à paralisação sob a justificativa de prejudicarem os estudantes. Quem geralmente paralisa não está se furtando do trabalho, mas pelo contrário, tendo dois trabalhos. Primeiro porque participará de passeatas e de encontros para se informar a respeito das propostas do patronato. Depois porque obrigatoriamente deverá repor aquele dia.
É mito dizer que paralisação ou greve prejudica os estudantes. O que prejudica são medidas governamentais pouco interessadas no trabalho da educação, são rasteiras políticas que enfraquecem a educação pública de qualidade.
Se acreditamos na autonomia do estudante também devemos exercer a nossa fugindo de justificativas “Se todo mundo parar eu paro”. Se compreendemos que a aula não é somente dentro das salas, podemos avançar para as ruas de modo que os conteúdos se transformem em hino de força e de união.
Quem luta educa, pois deixa o testemunho de seu compromisso com uma educação que transcenda a sala e a escola em busca de uma qualidade no atendimento a contar com a própria valorização do professor.
Avancemos na luta!
Ana Paula Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário