Páginas

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Folclore regional: fortalecer nossas raízes


Folclore é Saci, Iara, Boi Bumbá, Boto Cor-de-rosa, Negrinho do Pastoreio. É crendice, provérbio, prato típico, ditado popular, trava-língua, chás, benzeduras. É cultura de um povo, é sabor, cheiro, som, história, tradição. Frente a uma indústria cultural que apaga as memórias, aprecia o que há de mais imediato e massifica, folclore é resistência de grupos que buscam preservar sua cultura, nos dizeres de Brandão (1982, p.41) “A cultura do folclore não é apenas ‘culturalmente’ ativa. Ela é também politicamente ativa. É um codificador de identidade, de reprodução dos símbolos que consagram um modo de vida da classe.”
Para preservarmos é necessário conhecer, sair do senso comum de folclore associado tão somente ao Saci-Pererê e nos deslocarmos para a posição de curiosos vendo em cada manifestação folclórica um gesto de rebeldia tal qual uma planta que nasce no asfalto. O folclore traz a marca do povo e por isso tem os caracteres culturais do africano, do português e do indígena formando o que conhecemos através da transmissão oral, na imitação direta daquilo que caiu em domínio público e que alia a tradição e certa dinâmica.
O que é tradição na nossa região? Quais são as memórias locais? Quais lendas regionais que conhecemos? Um povo que não mergulha na sua cultura é um povo com mais condições de ser controlado e manipulado por outras culturas, de sofrer aculturação, de depreciar o modo de falar e agir de sua gente. Não quero dizer com isso que devemos nos isolar em nossos próprios saberes, mas que é necessário ter um conhecimento sólido de nossas raízes para que não fiquem expostas e vulneráveis às primeiras chuvas ou tormentas de uma cultura que homogeneíza.
Para fortalecermos nossas crianças com lendas que passeiam pela cultura de nossa cidade há vários capítulos do livro “Memórias Históricas de Poços de Caldas” de Nilza Megale que merecem ser lidos e apreciados primeiramente por nós professores. As crianças ficam encantadas com lendas tais quais da menina Cipriana, os fantasmas do cafezal e a lenda do Corumbá. Outra sugestão é entrevistar os mais velhos sobre os chás que costumavam fazer diante de alguma dor ou enfermidade, pesquisar ditados populares usados na família e seus significados, enfim, partir do local e estender para um universo cultural cada vez mais amplo, de troca, de fortalecimento do existencial, instigando a valorização e o pertencimento sem perder de vista a abertura para o desconhecido.

Ana Paula Ferreira

Referência:
BRANDÃO, C. R. O que é Folclore. São Paulo: Brasiliense, 1982. 
Texto publicado no Jornal da Cidade, 09/09/2016



Nenhum comentário:

Postar um comentário