Folclore é Saci, Iara,
Boi Bumbá, Boto Cor-de-rosa, Negrinho do Pastoreio. É crendice, provérbio,
prato típico, ditado popular, trava-língua, chás, benzeduras. É cultura de um
povo, é sabor, cheiro, som, história, tradição. Frente a uma indústria cultural
que apaga as memórias, aprecia o que há de mais imediato e massifica, folclore
é resistência de grupos que buscam preservar sua cultura, nos dizeres de
Brandão (1982, p.41) “A cultura do folclore não é apenas ‘culturalmente’ ativa.
Ela é também politicamente ativa. É um codificador de identidade, de reprodução
dos símbolos que consagram um modo de vida da classe.”
Para preservarmos é
necessário conhecer, sair do senso comum de folclore associado tão somente ao
Saci-Pererê e nos deslocarmos para a posição de curiosos vendo em cada
manifestação folclórica um gesto de rebeldia tal qual uma planta que nasce no
asfalto. O folclore traz a marca do povo e por isso tem os caracteres culturais
do africano, do português e do indígena formando o que conhecemos através da
transmissão oral, na imitação direta daquilo que caiu em domínio público e que
alia a tradição e certa dinâmica.
O que é tradição na
nossa região? Quais são as memórias locais? Quais lendas regionais que
conhecemos? Um povo que não mergulha na sua cultura é um povo com mais
condições de ser controlado e manipulado por outras culturas, de sofrer
aculturação, de depreciar o modo de falar e agir de sua gente. Não quero dizer
com isso que devemos nos isolar em nossos próprios saberes, mas que é
necessário ter um conhecimento sólido de nossas raízes para que não fiquem
expostas e vulneráveis às primeiras chuvas ou tormentas de uma cultura que
homogeneíza.
Para fortalecermos
nossas crianças com lendas que passeiam pela cultura de nossa cidade há vários
capítulos do livro “Memórias Históricas de Poços de Caldas” de Nilza Megale que
merecem ser lidos e apreciados primeiramente por nós professores. As crianças
ficam encantadas com lendas tais quais da menina Cipriana, os fantasmas do
cafezal e a lenda do Corumbá. Outra sugestão é entrevistar os mais velhos sobre
os chás que costumavam fazer diante de alguma dor ou enfermidade, pesquisar
ditados populares usados na família e seus significados, enfim, partir do local
e estender para um universo cultural cada vez mais amplo, de troca, de
fortalecimento do existencial, instigando a valorização e o pertencimento sem
perder de vista a abertura para o desconhecido.
Ana Paula Ferreira
Referência:
BRANDÃO, C. R. O que é Folclore. São Paulo:
Brasiliense, 1982.
Texto publicado no Jornal da Cidade, 09/09/2016
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