Vou colocar no feminino o nome da profissão, pois sabemos que essa tem a questão de gênero bem demarcada: é feita principalmente por mulheres! Pedagoga é a profissional que investiga, elabora, realiza práticas educativas que podem ocorrer em diversos espaços e não apenas o escolar. Isso porque enquanto seres humanos, somos animais políticos, sociais, construtores de cultura, de linguagem. Além da nossa capacidade de criar casas, poesias, tecnologias e várias outras coisas, podemos também ensinar e é dessa maravilha de partilhar saberes que a pedagoga se ocupa, possibilitando que as novas gerações se apropriem e recriem do que foi construído pelas gerações que as precederam.
Não é sem razão que a origem da
palavra é paidós (criança) e agogé (condução), para se referir às pessoas que
acompanhavam os mais novos até a escola. Essa cena da condução é muito
simbólica, pois é possível imaginar lá na Grécia Antiga, palco da etimologia da
palavra, a figura de um adulto guiando, orientando a criança para ela chegar a
seu destino, que é justamente o espaço privilegiado do saber, do conhecimento.
Significa dar autonomia, de estar perto no seu período de desenvolvimento, mas
sem sufocar; de ajudar nas trilhas do saber, mas sem infantilizar; de
democratizar o que foi produzido pela humanidade.
Nessa relação já existente entre o
ensinar e o aprender, o desenvolvimento da criança e o contexto a que pertence;
a pedagoga alia conhecimentos da psicologia com a sociologia; de visão de
indivíduo, sem abrir mão de visão de mundo, entendendo que as coisas funcionam
na mão de via dupla, na partilha, na troca seja entre pessoas, seja entre
áreas. E por isso, que mesmo diante de uma sociedade ocidental que fez tanto
apelo a um pensamento binário, que tanto valorizou um ponto em detrimento a
outro, a Pedagogia traz em sua formação as condições de combinações, como se
misturasse bem um ingrediente com o outro. Não joga tempero apenas às ciências,
pois compreende o papel de sensibilização da arte, nem tampouco enaltece
ciências da natureza, porque sabe que de pouco adianta desenvolvimento
tecnológico sem desenvolvimento humano.
Durante esse percurso ao
conhecimento pedagoga equilibra pratos sem deixá-los cair, como se fosse uma
malabarista. Traz a tradição do currículo, mas se coloca à disposição para as
novidades trazidas pelos estudantes; cuida e educa; junta afeto com razão; alia
o conhecimento erudito com o popular; ensina a leitura da palavra, levando em
conta a leitura de mundo; faz tecitura do saber global com o local; atua num
presente, com crianças, jovens, adultos, mas sem perder o foco de um plano de
futuro.
Lógico que para isso acontecer, o
trabalho não é de apagar fogo. Discursos que romantizam tempo dispendido apenas
em separar brigas, acudir aluno que passou mal ou família que precisou ser
atendida de última hora, estão negando a fundamentação da práxis pedagógica
entre o pensar e o fazer, o planejar e o realizar. E justamente pelo fato disso
exigir estudo, reflexão, que pesquisadores como Libâneo defendem que a
Pedagogia deva ser compreendida como “ciência da educação”, pois não basta
lecionar, é necessário investigar as razões da dificuldade de aprendizagem; não
basta acatar o que o diz o Conselho de classe, mas questionar os métodos de
avaliação e didática que se mostram excludentes. Tampouco não adianta ter
leveza no cotidiano escolar, quando não se questiona as amarras de opressão
feitas na escola ou contra a escola. Como defende o professor Celso
Vasconcelos... é preciso sim da alegria, mas de uma alegria crítica.
Se por um lado não cabe a
romantização, pois dociliza as microviolências sob roupagem de felicidade, no
planejamento pedagógico é necessário o processo de desnaturalização, e daí a
importância de acompanhar e reivindicar políticas públicas eficientes. Assim
sendo, questionar as vagas insuficientes na Educação Infantil, a normalização
de 45 alunos na sala de aula, a ausência de transporte escolar que acaba incidindo
na evasão ou a falta do pagamento do piso salarial que implica que os
professores trabalhem com mais turmas e, portanto, tenham menos tempo de se
dedicar a apenas uma comunidade escolar.
À medida que o espaço se amplia, da sala
de aula, para a gestão de uma escola ou para o trabalho em uma secretaria de
educação, o trabalho de equilíbrio continua o mesmo, porém muda a quantidade de
fatores que precisam ser observados a uma só vez. Orquestrar não é tarefa
fácil. É mais cômodo deixar a banda tocar. Por outro lado, sem a mediação a
banda vai desafinando, porque a harmonia entre os instrumentos de corda, de
madeira, de metal ou de percussão precisam de uma condução, da mesma forma que
na relação entre estudantes, professores, direção, funcionários
administrativos, famílias, há a necessidade de uma liderança para não se perder
o foco no aprendizado. A questão é: a pedagogia ao conduzir para o acesso a
pensamento científico, artístico ou linguístico será apenas para um grupo
privilegiado ou para todos?
Na resposta estão a ideologia e o caminho
que tomaremos.
Ana
Paula Ferreira
Pedagoga egressa da UEMG,
Realmente o papel do fazer pedagógico vai além do contexto escolar e com muitas arestas para serem resolvidas, desenhadas, trabalhadas e estudadas. O "saber da gente" como disse Cora Coralina, vai além dos livros e dos mestres está mesmo na sabedoria que se adquiri com a vida e as práticas do dia-a-dia. parabéns Ana Paula, seu texto enriquece nosso conhecer, nosso pensamento e nos desperta para o diálogo.
ResponderExcluirFábio, agradeço suas observações. Sempre assertivas e com imensa sensibilidade.
ResponderExcluirA pedagogia , ao meu ver , se assemelha ao *ensinar dando as mãos, é não abandonar e deixar no caminho aqueles que precisam de um olhar mais atento, de estratégias diferentes para se adaptar e chegar ao destino que se pretende.
ResponderExcluirParabéns por escolher esse ofício de ensinar. .