Páginas

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Jogo banco imobiliário em Poços de Caldas



Comecemos a partida! Distribui-se a mesma quantidade de dinheiro a todos jogadores e um peão para movimentá-lo de acordo com a quantidade anunciada na soma dos dois dados. O objetivo é gerar riqueza com algumas estratégias de compra e muita sorte. Jogo e realidade ora se misturam, ora se distanciam. Na vida não se tem o mesmo ponto de partida, alguns começam com patrimônio e a grande população sem nada. Em Poços de Caldas essa lógica não é diferente.

 Aqui, em terras sulfurosas, houve uma família que recebeu sesmarias do governador da Capitania de Minas Gerais, e antes que uma parte fosse desapropriada, doou alguns hectares para a formação do povoado. Nessa lógica, movimentava politicamente bem no tabuleiro do jogo, tendo o nome em destaque de vários patrimônios públicos da cidade, enquanto a maioria ficava no mesmo lugar, porque o salário era suficiente apenas para a subsistência.

 Pois bem… O jogo continua e há uma casa que se chama “sorte ou revés”. Em Poços de Caldas funcionaria assim “SORTE: você tem imóveis no centro da cidade e, portanto, terá a contribuição por parte da prefeitura na troca os pisos de sua calçada”; “REVÉS: você não tem autorização para seu trailer na praça e deverá retirá-lo.”

 Teve família que avançou no jogo com a seguinte carta da “sorte”: “Sua documentação está alinhada ao processo de licitação de pontos turísticos da cidade, dessa forma, você conseguiu a concessão da Fonte dos Amores, Recanto Japonês e Cristo Redentor”. Nota-se, uma semelhança com o banco imobiliário na compra de companhias (força, luz, petróleo, etc.) porque o jogador ao adquirir essa posse, conseguia gerar capital quando o adversário caía nessa casa, num valor multiplicado pelo número que tirou nos dados. É o mesmo que ocorre com o visitante dos pontos turísticos: parou no estacionamento, pague dez reais; parou na tirolesa pague mais sessenta reais; ficará 5 minutos no balanço, pague mais trinta reais. Isso sem o concessionário fazer nenhum investimento patrimonial no local.

 Não foi sorte, nem revés. Simplesmente o jogo estava orquestrado para algumas famílias, seja a que adquiriu concessões, seja a que fez grandes hotéis na cidade à custa de descumprimento de muitas leis trabalhistas, ou de construtoras que avançaram sobre áreas ambientais sem nenhuma preocupação com a recarga d’água.

 Enquanto isso, a maioria da população pouco aproveita da própria cidade, levando em conta inclusive que quem usa o transporte público paga R$6,00 pela passagem, valor mais caro do que na capital mineira. Fica fácil falir e perder no Banco imobiliário quando a concentração patrimonial é exacerbada e a política pública pouco olha para seus cidadãos. Dividem a riqueza entre eles, mas o trabalho, os impostos e as taxas são a “parte que nos cabem deste latifúndio”.

 Porém, para quem está no poder isso importa?

  

Ana Paula Ferreira

Mestre em educação e escritora

2 comentários:

  1. Excelente analogia!!! Por aqui tudo parece seguir essa dinâmica ... A única saída é a revolução através do aprendizado, e esse parece ser bastante doloroso à maioria...

    ResponderExcluir