Comecemos
a partida! Distribui-se a mesma quantidade de dinheiro a todos jogadores e um
peão para movimentá-lo de acordo com a quantidade anunciada na soma dos dois
dados. O objetivo é gerar riqueza com algumas estratégias de compra e muita
sorte. Jogo e realidade ora se misturam, ora se distanciam. Na vida não se tem
o mesmo ponto de partida, alguns começam com patrimônio e a grande população
sem nada. Em Poços de Caldas essa lógica não é diferente.
Aqui,
em terras sulfurosas, houve uma família que recebeu sesmarias do governador da
Capitania de Minas Gerais, e antes que uma parte fosse desapropriada, doou alguns
hectares para a formação do povoado. Nessa lógica, movimentava politicamente
bem no tabuleiro do jogo, tendo o nome em destaque de vários
patrimônios públicos da cidade, enquanto a maioria ficava no mesmo lugar,
porque o salário era suficiente apenas para a subsistência.
Pois
bem… O jogo continua e há uma casa que se chama “sorte ou revés”. Em Poços de
Caldas funcionaria assim “SORTE: você tem imóveis no centro da cidade e,
portanto, terá a contribuição por parte da prefeitura na troca os pisos de sua
calçada”; “REVÉS: você não tem autorização para seu trailer na praça e deverá
retirá-lo.”
Teve
família que avançou no jogo com a seguinte carta da “sorte”: “Sua documentação
está alinhada ao processo de licitação de pontos turísticos da cidade, dessa
forma, você conseguiu a concessão da Fonte dos Amores, Recanto Japonês e Cristo
Redentor”. Nota-se, uma semelhança com o banco imobiliário na compra de
companhias (força, luz, petróleo, etc.) porque o jogador ao adquirir essa
posse, conseguia gerar capital quando o adversário caía nessa casa, num valor
multiplicado pelo número que tirou nos dados. É o mesmo que ocorre com o
visitante dos pontos turísticos: parou no estacionamento, pague dez reais;
parou na tirolesa pague mais sessenta reais; ficará 5 minutos no balanço, pague
mais trinta reais. Isso sem o concessionário fazer nenhum investimento
patrimonial no local.
Não
foi sorte, nem revés. Simplesmente o jogo estava orquestrado para algumas
famílias, seja a que adquiriu concessões, seja a que fez grandes hotéis na
cidade à custa de descumprimento de muitas leis trabalhistas, ou de
construtoras que avançaram sobre áreas ambientais sem nenhuma preocupação com a
recarga d’água.
Enquanto
isso, a maioria da população pouco aproveita da própria cidade, levando em
conta inclusive que quem usa o transporte público paga R$6,00 pela passagem,
valor mais caro do que na capital mineira. Fica fácil falir e perder
no Banco imobiliário quando a concentração patrimonial é exacerbada e a política
pública pouco olha para seus cidadãos. Dividem a riqueza entre eles, mas o
trabalho, os impostos e as taxas são a “parte que nos cabem deste latifúndio”.
Porém,
para quem está no poder isso importa?
Ana
Paula Ferreira
Mestre
em educação e escritora
Excelente analogia!!! Por aqui tudo parece seguir essa dinâmica ... A única saída é a revolução através do aprendizado, e esse parece ser bastante doloroso à maioria...
ResponderExcluirExcelente texto
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