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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Educação inclusiva: uma bandeira contínua



O dia 21 de setembro é datado como o Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência e nos possibilita pensar que escola queremos, que tipo de mundo pretendemos construir. Um filme que alarga essa reflexão e que me surpreendeu é “Corcunda de Notre Dame” dirigido por Peter Medak. Traz um Quasímodo que não era apenas a pessoa com deficiência física e de alma generosa que defende a amiga, tal qual apresentado no desenho da Disney. Era também um leitor voraz, alguém que encontra no conhecimento o poder da libertação de si e do outro e ao acreditar na propagação de uma ideia, escreveu panfletos e os distribuiu lutando por justiça.

O saber lhe deu condições de se colocar perante o mundo, de ecoar sua voz e suas demandas, de enfrentar barreiras para a construção de uma sociedade mais democrática. Não estava salvando Esmeralda. Estava desafiando um sistema político extremamente arbitrário, uma religião fechada em si mesma, e evidenciando que marginalizados de todas as ordens poderiam se unir para colocar suas pautas.

Historicamente, vimos que as pessoas com deficiência eram afastadas do convívio, e que, aliás, a escolarização desse grupo é muito recente, pois, em se tratando de Brasil, se passaram mais de três séculos para que houvesse uma instituição que olhasse para essa demanda (Instituto dos Meninos Cegos/ Instituto de surdos-mudos) e em relação à deficiência mental se passaram mais de 400 anos (Sociedade Pestalozzi e APAE). Entretanto, a educação era, sobretudo em escolas especializadas, embora a LDB de 1961 já manifestasse que na medida do possível era para ser no Sistema Geral de ensino.

Hoje temos mais alunos nas classes regulares por conta de todo advento de acordos internacionais, legislações e políticas públicas que fomentaram a matrícula e o atendimento ao aluno com deficiência. Mas, ficam duas perguntas: Em que medida essas políticas ainda precisam avançar? E como cada profissional da educação pode materializar a lei para que a inclusão não seja apenas mero documento?

Paulo Freire nos fala de uma educação que seja libertadora, para professores e alunos. Para isso, preciso ir além do que é visível, além do que o texto traz, ou do que o aluno traz. Cada aluno é um baú de passado, de experiências guardadas, de conhecimento assimilado, mas também é um campo de futuras possibilidades. Hoje ele não consegue, amanhã ele pode conseguir com mediação e depois poderá conseguir sozinho. Ninguém se resume apenas ao hoje, ninguém se resume às suas dificuldades.

Como salientou Kassar (2011) a dificuldade da inclusão é também uma dificuldade da escola pública, historicamente também colocada nas margens, e, portanto, lutar por educação inclusiva é somar na luta por uma educação pública que seja de qualidade a começar por menos alunos por sala, metodologias ativas que primem pelo trabalho coletivo, relações mais horizontais, salário digno no qual o professor não precisasse trabalhar vários turnos e mal conhecer sobre a comunidade das diversas escolas que leciona.

Que inclusão deve ser nossa bandeira? Uma inclusão que não se faça apenas do aluno com deficiência dentro da sala de aula regular, mas que possibilite aquilo que Quasímodo sabia: que a educação é uma ferramenta contra desigualdades e, portanto, todos devem ter acesso a ela, na perspectiva de humanização e de aumento da participação popular em prol de uma sociedade mais justa.

Ana Paula Ferreira

Supervisora pedagógica da rede estadual,

Mestre em Educação

Texto também publicado no Jornal da Cidade e Jornal da Mantiqueira 
https://www.jornalmantiqueira.com.br/2020/09/21/opiniao-educacao-inclusiva-uma-bandeira-continua/ 







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