Páginas

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Sororidade – instrumento contra violência de gênero

A cada 4 minutos, uma mulher dá entrada no SUS vítima de violência. Foi também em menos de 5 minutos que na cidade de Três Corações (MG) o comerciante Luiz Felipe Neder Silva agrediu Edvânia Rezende. O que é mais ironicamente trágico é que essa mulher é uma segurança que foi brutalmente espancada ao tentar proteger a esposa de Luiz Felipe, a delegada Ana Paula Gontijo.
Isso é um exemplo cruel do ocorre no Brasil, pois mostra que não é a posição social, profissão ou grau de escolaridade que trará proteção contra a violência. As ocupações das mulheres citadas acima (segurança e delegada) sugerem que estão mais resguardadas pelo poder que o cargo oferece, mas não foi isso que ocorreu porque infelizmente a violência contra a mulher é extremamente alta, mas nem sempre tratada com a atenção que merece, haja vista, por exemplo, o corte de verba em diversos programas voltados às mulheres pelo presidente Michel Temer.
A proposta de orçamento para 2017 do governo federal apresenta uma redução de 74% no orçamento que diz respeito ao “Atendimento às Mulheres em Situação de Violência”. Se as cenas da cidade de Três Corações mostram a vulnerabilidade da mulher, tal barbaridade orçamentária mostra que o número de mulheres sem assistência do Estado tende a aumentar.
Sabe-se que a violência contra mulher e especificamente a violência doméstica alcança recordes absurdos por conta de uma mentalidade machista, patriarcal e de subjugação do gênero feminino. Mas, além dessas questões socioculturais há uma sociedade que ignora o fato e um Estado que assim também procede quando não acolhe as vítimas, que muitas vezes não possuem autonomia financeira para o sustento dos filhos.
O vídeo divulgado na mídia da agressão à segurança é um exemplo incomum do tema tendo em vista que o silêncio se torna mais vigilante. Cotidianamente os vizinhos emudecem com receio de serem invasivos, os familiares mais próximos preferem acreditar que só foi uma briga e que tudo estará bem. O ritmo de violência aumenta pela negligência da sociedade. Culpam a mulher de não denunciar, mas cada qual também se acovarda perante a situação.
Por mais que machistas não deixarão de sê-lo ao assistir a esta cena transmitida em vídeo por outro lado há terreno fértil para se germinar a semente da sororidade, tendo em vista que sensibilizou inúmeras pessoas que se encolerizaram com a situação.
Edvânia remou contra a maré quando teve coragem em tempos de acovardamento, mostrou empatia em tempos de individualismo. É necessário mais Edvânias no mundo para um enfrentamento contra o feminicídio. Necessita de Edvânias, de políticas públicas protetivas e de um debate constante sobre o assunto.
Infelizmente há ainda a mulher escravizada em um relacionamento doentio, em sua ideologia de que deve obediência cega ao cônjuge ou está econômica e afetivamente subordinada ao companheiro. Essas algemas socioculturais são demasiadamente fortes para serem quebradas apenas por uma pessoa. Exige sororidade e tomada de atitude de modo que o soluço do oprimido se transforme em voz que não será mais abafada.
 Ana Paula Ferreira 

Nenhum comentário:

Postar um comentário